Fugas - Viagens

Jonatas Luzia

Turismo e viagens: tendências para o(s) próximo(s) ano(s)

Por Mara Gonçalves

Algumas têm surgido nos últimos anos e prevê-se que ganhem novo fôlego em 2017, outras são consequência das movimentações dos últimos meses na indústria do turismo e que podem ter um impacto já no próximo ano ou continuarem em crescendo num futuro a médio prazo.

Turismo sustentável e responsável

As Nações Unidas declararam 2017 como o Ano Internacional para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável, com um programa de iniciativas a decorrer um pouco por todo o mundo ao longo do próximo ano. O objectivo da organização é promover “uma mudança nas políticas públicas, nas práticas empresariais e no comportamento dos consumidores” a nível global, de forma a tornar o sector turístico mais sustentável.

Para o equilíbrio da balança pesam não só as preocupações crescentes com o meio ambiente e as alterações climáticas, mas também a consciencialização do papel do turismo num crescimento económico local sustentável e inclusivo, que estimule a criação de emprego e a redução da pobreza nos destinos, assim como o respeito pela diversidade cultural, pelo património, pelas tradições e pelos animais.

A este respeito, é de recordar a decisão inédita da TripAdvisor, anunciada em Outubro, de “descontinuar a venda de bilhetes para experiências turísticas específicas durante as quais os viajantes entrem em contacto físico com animais selvagens e espécies ameaçadas que estejam em cativeiro”. Também o actor Leonardo DiCaprio anunciou em Novembro que irá transformar a sua ilha privada no Belize num eco-resort – isto dias depois de lançar um documentário sobre as consequências do aquecimento global e das alterações climáticas, Antes do Dilúvio.

Nos próximos anos, a sustentabilidade no sector do turismo deverá manter-se uma preocupação crescente entre empresas turísticas e hoteleiras, com o surgimento de cada vez mais programas e equipamentos ecológicos, mas também entre os viajantes, enquanto factor decisivo na escolha do destino, do alojamento, dos restaurantes, dos transportes utilizados ou das actividades reservadas.

 

Gigantes das reservas online maiores e mais diversificadas

Não se adivinham tempos fáceis para as agências de viagens tradicionais. Enquanto a quantidade de informações e ferramentas disponibilizadas online continua a dar maior independência aos viajantes (ler mais em baixo), as plataformas de reservas digitais têm cada vez mais o pé no sector (e, em breve, provavelmente o corpo todo). Entre aquisições de empresas mais pequenas, parcerias com outros grupos de peso e crescente diversificação da oferta, os gigantes online do turismo têm ramos cada vez mais frondosos e robustos.

A Airbnb, por exemplo, deixou de ser apenas uma plataforma de reservas de alojamento temporário entre particulares, para oferecer pacotes de actividades e de experiências organizados por habitantes locais, guias e listas de recomendações. Em breve, nascem pelo menos mais dois galhos neste enxerto em franca produção: reserva de voos e outros serviços.

Depois de ter adquirido a plataforma Viator em 2014, também a TripAdvisor converteu-se este ano num portal de planificação e reserva de viagens. Além de partilhar milhões de comentários e opiniões de utilizadores sobre empresas e actividades turísticas em todo o mundo, agora também permite encontrar voos e reservar actividades e alojamento em casas de férias e em cada vez mais hotéis (este ano, firmou mais uma parceria neste campo, desta vez com a Expedia, empresa-mãe da TripAdvisor até 2011).Já a Ryanair lançou o Rooms, um novo serviço de alojamento económico, numa parceria com a plataforma Booking.com e entrou no mercado dos operadores turísticos, passando a oferecer pacotes com voos e alojamento incluídos.

 

Viajar de forma independente e sozinho (e, cada vez mais, sozinhas)

Um estudo feito recentemente pela BookYogaRetreats.com concluiu que 51% dos mais de 300 inquiridos estão a planear viajar sozinhos nas próximas férias. A percentagem aumenta substancialmente entre os alemães (80%), britânicos (69%) e canadianos (67%) – mas a tendência parece estar a ganhar adeptos em todo o mundo.

Sem surpresas, a grande maioria dos inquiridos revelou ainda que vai programar a viagem e fazer as reservas necessárias de forma independente. Apenas 6,25% prevê recorrer a uma agência de viagens em 2017.

Entre as previsões divulgadas por vários media no sector das viagens está ainda o aumento do número de mulheres a viajar sozinhas. De acordo com a Lonely Planet, um estudo recente revelou que o número de empresas de viagens destinadas exclusivamente ao mercado feminino aumentou 230% nos últimos anos. Segundo o relatório de tendências de viagem deste ano do Euromonitor International, a Índia é um dos países onde o fenómeno tem ganho mais expressão, “suportado por iniciativas governamentais e start-ups focadas nas mulheres”.

 

Viajar sem bagagem

Deixar a mala em casa e alugar roupa e outros pequenos produtos no destino é outra das tendências detectadas pelo Euromonitor International, com popularidade crescente entre os jovens. De acordo com o estudo, há cada vez mais hotéis e marcas de moda a criar parcerias para corresponder à procura e start-ups a surgir neste mercado. Uma delas é a UnPack, que promete entregar uma mala com roupas, acessórios e artigos de higiene directamente no hotel. Depois da entrada nos sectores do alojamento e dos transportes, a economia partilhada parece continuar a expandir-se a outras áreas do turismo e das viagens.

 

Microaventuras

À medida que as viagens se vão tornando uma parte imprescindível do estilo de vida de uma fatia cada vez maior da população, também as microaventuras vão ganhando mais adeptos entre os europeus. Pelo menos é essa outra das conclusões do Euromonitor International: sem tempo para tirar muitos dias seguidos de férias, os europeus estão a procurar “escapadelas curtas mas aventureiras”.

E há cada vez mais empresas a ter isso em conta. A easyJet, por exemplo, lançou várias campanhas com aventura no ADN para destinos europeus, tanto em cidades como nos arredores, numa alternativa às clássicas escapadelas citadinas.

Também este ano surgiram em Portugal duas empresas que comercializam pacotes de viagens cujo destino é surpresa para o cliente até à véspera da partida e que têm, precisamente, como premissa devolver emoção e aventura às viagens.

 

Mais voos low cost na Europa

À medida que as companhias aéreas fecham os planos para 2017, sucedem-se anúncios de novas rotas em Portugal no próximo Verão. Só o Porto conta com pelo menos mais três ligações oferecidas por companhias diferentes: Amesterdão (KLM), Paris (Air France) e Dublin (Aer Lingus). Mas há mais e mais, sem contar com aquelas que sempre nos vão escapando.

A somar às novas rotas, há ainda uma companhia área low cost prestes a surgir na Europa. Ainda não tem nome nem data de nascimento (as previsões apontam apenas para “Abril de 2017”), mas sabe-se que tem pais com experiência no sector (Etihad e TUI), que a maternidade ficará em Viena, que terá casa em vários aeroportos austríacos, alemães e suíços, e que dará os primeiros passos em destinos como a Grécia, ilhas Baleares e Canárias e Espanha continental. Quanto a Portugal, saberemos em breve.

Para breve está também a oferta de lugares gratuitos na Ryanair. O prognóstico feito pelo director-executivo da companhia aérea low cost caiu que nem uma bomba de marketing na conferência da Associação de Operadores de Aeroportos, que se realizou em Londres no final de Novembro. Na “visão” de Michael O’Leary, começarão a existir tarifas gratuitas “nos próximos cinco a 10 anos”.

 

Voos de longo curso mais rápidos e sem escalas

A Boom Techonolgy apresentou em Novembro o primeiro protótipo do XB-1, o avião supersónico que a norte-americana está a desenvolver nos estaleiros em Denver, com o apadrinhamento da Virgin Galactic, uma das empresas na corrida do turismo espacial. Enquanto o futuro galáctico das viagens não descola, os avanços tecnológicos são aproveitados para voar mais rápido e durante mais tempo na órbita da Terra.

Um clube de fãs do Concorde – a aeronave civil mais rápida do mundo e o supersónico que operou voos comerciais durante mais tempo, até 2003 – continua a tentar devolver aos céus um dos aparelhos icónicos. Já o XB-1 promete ultrapassar a velocidade do Concorde e ligar Nova Iorque a Londres em três horas e meia. A primeira rota só deverá chegar, contudo, no início da década de 2020. Até lá, é o campeonato dos voos de longo curso que parece estar a aquecer.

Nos últimos meses, várias companhias anunciaram voos directos cada vez mais longos, permitindo ligar cidades longínquas sem recorrer a escalas. Em Novembro, a Air India começou a operar a rota directa mais longa de sempre, num voo de 15.300 quilómetros entre Nova Deli e São Francisco. Em 2018, a Singapore Airlines retoma os voos sem escalas entre a cidade de Singapura e Nova Iorque, subindo ao primeiro lugar do pódio: 16.500 quilómetros percorridos em 19 horas. Também para 2018 está marcada a estreia da primeira rota comercial regular sem escalas entre a Austrália e a Europa. A ligação operada pela Qantas vai ligar Perth e Londres em 17 horas (14.498 quilómetros).

 

Cruzeiros à volta do mundo

Algumas das principais empresas no sector dos cruzeiros vão inaugurar navios em 2017 e já anunciaram novidades nos itinerários oferecidos para as próximas temporadas. Para o final do ano, está também prevista a estreia do primeiro cruzeiro à volta do mundo da Viking Cruises, uma tendência em crescendo no mercado dos cruzeiros, com várias companhias a anunciarem nos últimos meses o lançamento de roteiros de circum-navegação nos próximos anos. Além da companhia norte-americana, que estreia a rota em redor do globo em Dezembro, numa viagem de 141 dias, também a MSC anunciou em Novembro o seu primeiro cruzeiro à volta do mundo, previsto para 2019.

 

Mais gadgets de fotografia e vídeo

O catálogo de novos gadgets e de apps de viagem não dá sinais de querer emagrecer. Antes pelo contrário. Segundo um estudo do Harris Poll, quase 80% dos jovens norte-americanos com idades entre os 18 e os 34 anos preferem gastar dinheiro em experiências do que em comprar carros ou casas. Querem ter vivências que lhes tragam boas memórias para o resto da vida e que os tornem “mais conectados com outras pessoas, com a comunidade e com o mundo”. As viagens, claro, entram aqui e a faixa etária dos millennials ganha cada vez mais peso no sector do turismo. Como, simultaneamente, há cada vez mais jovens com “medo de ficar de fora” (no inglês “fearing of mission out”, conceito que deu origem ao acrónimo FOMO) – quase sete em cada 10 dos inquiridos, segundo o estudo da Harris – a vontade de partilhar as vivências em viagem com amigos e familiares continuará a alimentar o surgimento de novas aplicações móveis, gadgets e funcionalidades nas redes sociais e aparelhos.

Enquanto a moda dos directos e das fotos e vídeos em 360º continua a inundar-nos o feed do Facebook (o New York Times, por exemplo, lançou recentemente um novo projecto e leva-nos diariamente a viajar pelo mundo em imagens em 360º), há cada vez mais empresas no sector do turismo a criar espaços e momentos próprios para as redes sociais. É o caso da Porto Bridge Climb, criada este ano para levar turistas às vistas do arco da Ponte da Arrábida, que instalou wi-fi gratuito no alto do arco para proporcionar a partilha imediata de fotos e vídeos.

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