Escrever em sámi é impossível, vestir como um sámi sai caro — uma mulher terá de gastar quase 1500 euros para ter um vestido e mais ou menos a mesma verba para adquirir um cinto dourado, brincos e jóias de prata, sem esquecer botas de pele e um gorro, entre outros apetrechos; o melhor mesmo é percorrer uns quilómetros e beber, por um preço mais em conta, algo que nos aqueça, como nesses dias de Inverno que a memória, continuando a caminhar para trás, regista. A fonteira com a Finlândia está a dois passos, é só caminhar para a frente. Em busca de mais memórias, enquanto transporto outras de uma paisagem que era branca, imaculadamente branca, como uma noiva gigantesca com pressa de chegar ao altar.
Rei morto, santo posto
Contra o céu azul projecta-se, na sua imponência, a Nidaros Cathedral, que é, mais do que a catedral de Trondheim, o santuário nacional do país. Os trabalhos iniciaram-se em 1070 mas dessa época não resta qualquer vestígio — a parte mais antiga remonta a meados do século XII, mas aquela que é considerada a mais importante atracção histórica da cidade foi alvo de grandes obras de restauro em 1869, um trabalho que continua por concluir mais de um século depois.
Deixo a visita à catedral e a sua história para mais tarde.
A curta distância do templo religioso, em tempos um dos maiores centros de peregrinação da Europa, lugar de coroação de reis e da sua última residência, tenho o palácio do Arcebispo, um dos mais bem preservados complexos do género do continente europeu que começou a ser levantado na segunda metade do século XII e serviu de residência do bispo até 1537, ano da Reforma Protestante. Nas suas diversas alas, erro por museus que traçam os passos da cidade e que incluem, entre muitas outras curiosidades, esculturas originais da catedral e descobertas arqueológicas da sua história que tanto dramatismo encerra.
Trondheim é uma cidade que dedica uma parte significativa da sua existência à música, conforme atesta a popularidade de dois dos museus que abriga: um, inaugurado apenas em 2010, o Rockeim, orgulha-se de ser o centro da música rock e pop, bem como uma das mais recentes atracções desta urbe que, embora contando com pouco mais de 170 mil habitantes, é a terceira maior da Noruega, logo depois de Oslo e Bergen.
Localizado num impressionante edifício na zona portuária (está dotado de um restaurante com uma vista soberba sobre a cidade), o Rockeim — significa literalmente casa do rock — exibe o melhor da música popular norueguesa desde 1950 até aos nossos dias, através de exposições, experiências interactivas, sem ignorar os concertos; o outro, o Ringve, é o museu nacional da música e dos instrumentos musicais, acolhendo duas mostras permanentes, uma numa mansão, aberta somente entre Abril e Outubro, englobando a secção mais antiga e preservada de forma exemplar, tal e qual como foi idealizada pela fundadora do Ringve, Victoria Bachke, quando inaugurou o espaço em 1952; a outra exposição funciona no Barn, tem as suas portas abertas durante todo o ano e está mais focada nos sons modernos e nas novas tecnologias musicais.