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Sámi, cem anos de reconciliação

Trondheim é daquelas cidades que, embora ocupando uma área pouco extensa, tem de tudo um pouco, para todas as idades e gostos, em parte devido ao papel fundamental que desempenhou, num passado distante, no desenvolvimento da cultura nórdica. Conhecida em tempos ancestrais como Kaupangen (que se pode traduzir como mercado ou praça), de acordo com a vontade, expressa no ano 997, do rei viking Olav Tryggvason, tornou-se, mais tarde, Nidaros, servindo nesses primórdios como depósito militar do rei Olav I. Trondheim foi testemunha de respeitáveis acontecimentos na sua área limítrofe, como a célebre luta, em 1179, pela conquista do trono viking, conhecida nos manuais escolares como a Batalha de Kalvskinnet.

Em Trondheim, política e religião estão fortemente associadas à história e ao desenvolvimento da cidade. Não é possível falar de Trondheim sem evocar os primórdios do Cristianismo no país. O rei Olav, o primeiro soberano cristão, teve de expulsar os chefes pagãos de Lade (comunidade vizinha), tão determinados que estavam em perpetuar os méritos dos seus deuses e em evitar que um novo deus se impusesse — uma tese, defendida por alguns estudiosos, leva-nos a acreditar que o lendário explorador Leif Ericson se converteu ao Cristianismo em Trondheim antes de rasgar as águas dos mares a caminho da Gronelândia e da Islândia.

A verdade é que, desde 1152 e durante quase quatro séculos, a cidade foi sede do bispado de Nidaros, um dos mais influentes na região e mesmo no país, conhecendo um fim tão abrupto quão inesperado em 1537, quando os ventos da Reforma Protestante começaram a soprar na Noruega: forçado a abdicar pelos luteranos, o arcebispo teve de viajar à pressa para a Holanda.

A catedral, essa, manteve-se de pé e é na sua fachada, ora elegante, ora austera, que deposito pela segunda vez os olhos. A história daquela que é a maior estrutura medieval da Escandinávia e, em simultâneo, a mais importante igreja da Noruega, tem as suas origens num homem que se tornou um chefe viking antes de ser rei e santo.

Chamava-se Olav Haraldsson, terá nascido em 995 e, como tantos outros na mesma época, começou por gozar os prazeres da vida assentes no tradicional método viking de invadir e atacar até ao dia em que, na sua qualidade de mercenário ao serviço do Duque da Normandia e rei Ethelred de Inglaterra, se converteu ao Cristianismo. Provavelmente influenciado pelos missionários cristãos que já no século X erravam pela actual região do Norte de França, Olav Haraldsson encheu-se de determinação e regressou, em 1015, à Noruega para, após derrotar os seus inimigos, ser proclmado rei.

Conhecido pela sua agressividade, o soberano acreditava que, dessa forma, estava a acelerar o processo de conversão do povo mas, ao mesmo tempo, na sua cegueira, ignorava que, utilizando métodos brutais, hipotecava importantes apoios junto da população. Não foram necessários mais de 13 anos após o seu regresso à Noruega para Olav Haraldsson ser derrotado e forçado ao exílio, sem que o fracasso em momento algum aplacasse a sua sede de poder — pelo contrário, exacerbou a sua necessidade de vingança. O rei organizou-se, formou o seu exército e, decidido a reconquistar o trono, no espaço de dois anos, a 29 de Julho de 1030, estava de novo na frente de uma batalha — de Stiklestad, cerca de uma centena de quilómetros a norte de Trondheim — que desta vez o iria conduzir à morte.

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