Fugas - Viagens

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Sob o céu mais estrelado

A partida

Antes de ser uma estrutura, Paranal é um cerro. Cerro, termo pouco usado pelos portugueses de hoje para colina ou outeiro, é como os chilenos chamam às elevações na paisagem do seu longo e estreito país entre a cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico.

Para chegar ao Cerro Paranal há que primeiro chegar ao Chile. Como não existem voos directos entre Lisboa e Santiago do Chile, escolhi Paris como cidade de escala. Poderia ter escolhido Londres, Madrid ou Roma, sabendo que, tal como para a Air France, também para a British Airways, Madrid ou Alitalia o voo para Santiago é o mais longo voo directo de cada uma destas companhias aéreas: 14h40min, 13h40min, 13h40min, 15h15min… Poderia ainda ter feito conexão em São Paulo ou no Rio de Janeiro, dividindo o tempo de voo pelos dois continentes. Mas não era a mesma coisa (e não custava o mesmo).

Dos 18 voos diários entre Santiago e Antofagasta operados pela LatAm e pela low-cost Sky escolhi a opção mais barata. A viagem de duas horas acompanha toda a costa chilena e termina com uma aproximação dramática ao aeroporto de Antofagasta, localizado a 20 quilómetros da cidade, precisamente no meridiano do Trópico de Capricórnio, numa planície rodeada de cerros e outras aflorações rochosas em vários tons de castanho que termina em escarpas arenosas sobre o oceano Pacífico.

Na viagem de uma hora do aeroporto para o meu hotel o transfer colectivo vai deixando passageiros nos vários sectores da cidade, passando por bairros de casas populares cor de lama com decorações de Natal, anúncios de condomínios fechados com vista para o mar, rochas repletas de pelicanos.

Fundada em 1868 como cidade boliviana, Antofagasta passa para mãos chilenas em 1904, já depois do boom do salitre – o célebre salitre ou nitrato do Chile, cujos painéis publicitários em azulejo desenhados nos anos 1920 pelo espanhol Adolfo Lo´pez-Duran Lozano ainda hoje se encontram em Portugal e Espanha – que até ao crash de 1929 trouxe à cidade o porto, o caminho-de-ferro e imigrantes ingleses, espanhóis, gregos, árabes, chineses. Hoje é o cobre do Chile que faz de Antofagasta a quinta maior e mais rica cidade chilena.

Ao fim da tarde de uma sexta-feira de Primavera tardia as ruas pedonais do centro da cidade estão cheias de gente às compras, casais a tirar selfies, famílias a ouvir e ver bandas de rua e ranchos folclóricos. Ao fundo, dominando o anfiteatro da paisagem urbana, a massa castanha da cordilheira da Costa do Pacífico Sul.

Como não existem transportes públicos para o Cerro Paranal, aluguei um carro e levantei-o no aeroporto, onde cheguei de táxi – também não existem transportes públicos entre o centro e o aeroporto – e logo a seguir fiz todo o caminho de volta ao centro até chegar à Avenida Salvador Allende e virar à esquerda. Daqui comecei a terceira parte da minha viagem.

A chegada

Quando a avenida acaba e a estrada começa, o terreno eleva-se, endurece, escurece. Passando a cordilheira chego à Ruta 5, mais conhecida por Panamericana del Norte, viro à direita. Seguem-se 120 quilómetros de uma quase ininterrupta recta numa estrada de qualidade e sinalização irrepreensíveis. A paisagem torna-se mais aberta, mais suave, mais clara. De um lado e do outro do alcatrão a presença vegetal, animal e humana é quase nula. Um carro de vez em quando. Camiões. Autocarros (carreira Santiago-Antofagasta: 18 horas e 25 minutos). Outdoors, muitos sem anunciante. Um céu como só nos filmes.

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