Antes do meio do caminho passo pelo bairro industrial La Negra, sede de empresas associadas à exploração mineira, um aglomerado de armazéns, estruturas industriais e camiões envoltos numa nuvem de pó. Mais a sul passo o entroncamento com a ruta B-55, estrada que 145 quilómetros a leste chega a Mina Escondida, a maior e mais produtiva mina de cobre do mundo. Faço os últimos oito quilómetros sempre a subir, na variante que termina no portão do observatório. Chego mesmo antes das duas da tarde.
A visita
Tal como os outros telescópios do ESO, o VLT não é um museu, nem um centro de ciência, nem uma instituição de ensino. É um local de trabalho. Isso justifica que o acesso ao público esteja limitado a um dia por semana (sábados) e seja feito apenas por visita guiada com marcação prévia obrigatória. Em cada sábado há duas visitas de três horas, começando a primeira às 10h e a segunda às 14h. As visitas são gratuitas. O limite dos grupos é de 180 pessoas.
Quem me fornece estas e outras informações é Victor Sanchez, o jovem estudante de biotecnologia de Antofagasta que será o meu guia nas 24 horas que passo no Cerro Paranal, acompanhando-me a mim e à equipa da revista de uma empresa americana de jactos privados. Como membros da imprensa somos autorizados a ver e saber mais sobre o VLT, falar com o pessoal que aqui trabalha e a pernoitar na residência do complexo. O outro estatuto que permite este tratamento especial é o de VIP; neste sábado o grupo de visitantes muito especiais incluem o embaixador da Grécia no Chile e o português Joaquim Oliveira Martins, chefe da Divisão de Política e Desenvolvimento Regional da OCDE.
Enquanto almoçamos sabemos que os visitantes do VLT chegam aqui de muitas formas — automóvel, motociclo ou bicicleta — e de todo o lado: estudantes chilenos em excursão, entusiastas da astronomia e astrofísica, turistas para quem o Paranal é mais uma paragem do seu périplo pelo deserto do Atacama. Cada grupo é recebido por um guia no centro de visitantes, subindo de seguida à plataforma dos telescópios.
Desta plataforma, localizada a apenas 12 quilómetros da costa e a 2635 metros de altura do nível médio das águas do mar, num dia de boa visibilidade vemos a oeste as águas do Pacífico e a leste o vulcão Llullaillaco, já na fronteira com a Argentina. Um arco de visão de aproximadamente 205 quilómetros, igual a toda a largura do Chile. E equivalente à de Portugal entre Elvas e o cabo da Roca.
É também daqui que andamos entre os quatro telescópios com espelhos principais de 8,2 metros e os quatro telescópios auxiliares móveis com espelhos de 1,8 metros. Os primeiros são chamados de Unit Telescope (Telescópio Unidade): UT1, UT2, UT3, UT4 e pelo seu respectivo nome em mapudungun, a língua dos mapuche, povo indígena do Chile e da Argentina: Antu (Sol), Kueyen (Lua), Melipal (a constelação Cruzeiro do Sul, a mesma do logótipo do ESO) e Yepun (Vénus ou Estrela da manhã).
Como as visitas são feitas durante o dia, o público comum não pode observar a abertura de cada UT ao pôr do sol. O nosso grupo pôde testemunhar esta coreografia entre máquina e edifício, cada um rodando independentemente entre si sobre finas camadas de óleo enquanto as portadas desta estrutura rigorosamente climatizada se abrem lentamente. Já dentro de cada UT aprendemos as funções dos espelhos primário, secundário e terciário, além dos instrumentos a eles ligados.