As palavras de Manuel Cabalceta Méndez martelam no meu cérebro quando, finalmente, os meus passos vão pisando o trilho que, ao fim de alguns metros, me conduz a uma cascata. Percorro o sendero La catarata, não mais de 900 metros, até apreciar a água a cair, não muita, porque a época das chuvas permanece distante e regresso, logo de seguida, ao caminho que todos pisam mal entram no perímetro do parque.
Uma certa quietude, agora que todos estão mais para a frente, permite-me reflectir sobre o país dos ticos, onde se esconde 6% da biodiversidade mundial, esse território banhado pelas águas do Pacífico e do mar das Caraíbas, um paraíso constituído por bosques tropicais, lagos, vulcões e praias que abrigam espécies vegetais e animais extraordinárias — o Instituto Nacional da Biodiversidade calcula que haverá pelo menos um milhão neste autêntico jardim zoológico tropical claramente abençoado pela natureza.
Emissão zero
É difícil, durante a minha errância pelo país, ver lixo no chão, uma garrafa de plástico esquecida; fumar, mesmo ao ar livre, numa paragem de autocarro ou nas proximidades de um espaço público, é um assunto sério; a Costa Rica, quando penso nela, remete-me para um jardim enorme e bem cuidado, no qual a protecção do meio ambiente está garantida pelos seus cidadãos, uma tradição que remonta aos últimos anos da primeira metade do século passado, coincidindo com o fim da guerra civil que assolou o país. Ao mesmo tempo, as autoridades lançam constantes apelos à paz com a natureza e esperam alcançar, dentro de quatro anos, a emissão zero de carbono — essa foi uma das promessas, em 2007, do presidente Óscar Arias (Prémio Nobel da Paz em 1987) e o actual chefe de estado, Luis Guillermo Solis, também não abdica desse compromisso assumido pelo anterior líder.
Embrenho-me pelo parque Manuel Antonio mas sinto dificuldade em afastar-me da realidade do país, do facto de mais de 25% de uma área total ligeiramente superior a 50 mil km2 (e não mais de 4, 8 milhões de habitantes) ser declarado Reserva Nacional, o que corresponde a uma das mais elevadas percentagens mundiais. Por momentos penso naqueles que, erradamente, buscam na Costa Rica ruínas pré Colombo ou vestígios de cidades coloniais; o património do país é a força da natureza, uma Arca de Noé em todo o seu esplendor — não há, na América Central, outro país que proporcione tantos mimos, com tanto esmero, ao meio ambiente.
Sigo em frente, ao longo do trilho El Perezoso, e a presença de um preguiça, trepando vagarosamente pelo tronco esguio de uma árvore, faz desde logo justiça ao nome; depois desvio-me para o passadiço construído há dois anos, correndo quase paralelo ao trilho e muito mais tranquilo. Por entre a ramagem espessa, avisto um tucano com tonalidades azuis e amarelas — aviso aqueles que se aproximam, como quem desempenha o papel de guia, substituindo Manuel Cabalceta Méndez.
Aqui e acolá penso nele, nas suas palavras sábias.
- Claro que o turista que visita a Costa Rica vem com a intenção de fazer turismo natural, ecotours, actividades de aventura, espairecer. Se quer ver Cadillacs antigos e beber mojitos escolhe Cuba como destino. Há muitos animais, belos e interessantes, na Costa Rica mas mais de 90% dos meus clientes, ao longo das minhas caminhadas guiadas, espera ver um preguiça ou um macaco — são, sem dúvida, independentemente da idade dos turistas, os animais mais populares.