Quando deixo o trilho principal, hesitando na bifurcação, opto pelo que parte à minha direita, iniciando uma descida pouco íngreme que dentro em breve se abre para o mar, para águas onde não tardo a mergulhar antes de estender a minha toalha sobre areias douradas, testemunhando o clamor das vagas ou simplesmente observando aqueles que, na sua errância pausada, deixam marcas sobre a areia húmida, com um olhar sonhador que me faz adivinhar que provavelmente nunca estiveram em lugares tão bonitos como este que lhes serve de cenário.
Fico feliz por eles. E por mim, pela panorâmica que me é dada a contemplar.
Caminho um pouco mais, quase sempre em silêncio, mas expectante, atento, fitando as árvores que sobem no céu de um azul puro; cruzo-me com um ou outro casal, aqui e ali avisto um animal, detenho-me e incito-os a observarem, mesmo que a minha missão se revele por vezes difícil, até que acabo por seguir o meu trajecto que me leva, daí a pouco tempo, até uma espécie de varanda de onde avisto o mar em toda a sua beleza, ao mesmo tempo que, em baixo, sob o penhasco que cai na vertical, escuto o rugido das águas, quebrando-se com impaciência contra as rochas, como música para os meus ouvidos que não escutam, daí a pouco, o lento rastejar de um lagarto que, em cima de uma pedra, ao sol, abre a sua boca como alguém que pretende, de uma só vez, abarcar toda a beleza do lugar, como se aquele fosse um momento único, sublime, incapaz de se repetir por muitos anos que a vida, como o mar que continuo a avistar, se perfile no horizonte.
Servindo-me de outro trilho, subindo uma vez ou outra, vendo o sol filtrando-se por entre os ramos das árvores, chego à praia onde os turistas se banham, onde outros se abrigam dos raios fortes do sol, onde alguns, ainda, se divertem observando os macacos que estão mais interessados no conteúdo dos seus sacos do que em serem fotografados ou apreciados nas suas acrobacias — afinal, o mundo é mesmo assim, cada um, consciente ou inconscientemente, faz aquilo que mais lhe interessa.
Faço o caminho de regresso, quase não há turistas a esta hora, o parque parece-me mais belo do que nunca, entregue a si próprio, à sua beatitude; agora, porque o dia avança, não há animais, nenhum guia me poderia apontar um, talvez me pudesse indicar apenas o nome desta ou daquela árvore, fazer com que levantasse o olhar e lhe agradecesse.
É mesmo assim.
- Quando comecei a trabalhar a tempo inteiro como guia naturalista, a logística do desenvolvimento das actividades da natureza era menos exigente e não carecia de tanta destreza e agilidade como nos dias de hoje. Desempenhar as funções de guia mudou muito nos últimos anos. Graças à tecnologia digital e às plataformas das redes sociais, os turistas preferem levar uma fotografia ou um vídeo em vez de olharem, perdendo, assim, a verdadeira essência e a arte original de um parque, entre outros, privilegiado pela sua biodiversidade.
Volto a sentar-me no lugar onde estivera a escutar atentamente Manuel Calalceta Méndez antes de ele se despedir de mim e partir com um grupo.