Fugas - Viagens

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Parque Manuel Antonio, um jardim com vista para o Pacífico

Lembro-me, por instantes, da fila para adquirir bilhetes, do sentimento de Disneyland que se propagou pela minha alma àquela hora da manhã, com todos os hotéis em redor, mais as lojas onde se vende de tudo um pouco, mais os parques lotados de carros e autocarros. Manuel Cabalceta Méndez percebe, sem grande dificuldade, onde quero chegar mas contorna a questão com delicadeza.

- Temos o turista sério e exigente, que sabe o que quer, o turista descontraído sem grande interesse científico, que apenas quer apreender um pouco da nossa cultura e das nossas tradições, e o turista que simplesmente não sabe em que país está, que nada sabe da geografia mundial ao ponto de me perguntar em que ilha estamos.

Rio-me.

- Podes rir-te à vontade. Não acreditas no que te estou a dizer?

Eu faço um esforço.

- Eu sei que é difícil acreditar mas sabes que já me perguntaram, mais do que uma vez, se à minha direita estava o mar das Caraíbas e à minha esquerda o Oceano Pacífico. Já me aconteceu com frequência quando estou a caminhar, com um grupo, sobre a ponte natural que se cria pela acumulação de sedimentos, areia, terra e conchas, que primeiro começa com um banco de areia e une a Punta Catedral com a massa continental do parque Manuel Antonio.

Varanda com vista

A Punta Catedral foi, em tempos, uma ilha mas está ligada ao continente por uma estreita faixa que separa duas praias, a Espadilla Sur e a Manuel Antonio. Bem perto destas, está um miradouro que as árvores, com as suas copas altas, pouco deixam ver, a não ser um pássaro ou outro, mais o céu azul — quando desço encontro um macaco que se esconde atrás de uma das vigas de cimento sobre as quais está construída a torre de observação e exibe-se por instantes, em frente a um telemóvel que o eterniza; logo depois, mostra-se indiferente ao interesse dos curiosos, enquanto outros, caminhando sobre o trilho que corre junto à praia, vão lutando em cima da areia que se levanta, motivando mais e mais fotografias.

As ondas do mar chegam arrebatadoras, não há nelas qualquer manifestação dócil, arrastam a areia na sua cavalgada e, para o outro lado, batem com força sobre os rochedos, lançando um lençol de espuma que sobe no ar; caminho, a maior parte das vezes entregue à minha solidão, e avisto ao longe a praia por onde passara, às primeiras horas da manhã, território de surfistas e de alguns casais que se estendiam nas suas camas dispostas sobre as areias, fitando pequenas ilhas recortando-se naquele mar infinitamente azul, aqui e acolá sobrevoadas por pássaros que riscavam o céu. O parque Manuel Antonio tem, na verdade, visitantes a mais, mas tem, da mesma forma, algumas das praias mais bonitas do mundo — difícil é, por vezes, compreender por que designam a Espadilla Sur como a segunda praia, a playa Manuel Antonio como a terceira, a playa Puerto Escondido (a de mais difícil acesso) como a quarta, finalmente, no meio de toda esta confusão, a Playita (mais procurada pela comunidade homossexual, que de há muitos anos a esta parte vê Manuel Antonio como destino de sonho mas também porque a homossexualidade foi descriminalizada na Costa Rica já na década de 1970) como a quinta. São cinco praias, o melhor mesmo é não as contar, como fazem alguns, começando pela Espadilla Sur, o que provoca desde logo um certo desassossego nos seus cérebros, que apenas deviam estar disponíveis para admirar a magnificência de um lugar pouco dado a números.

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