Ainda na margem sul do Cávado, e já virada para o estuário do rio, fica a casa que Pádua Ramos desenhou para si próprio, com paredes brancas, janelas verdes e amarelas e um grande jardim interior. É uma arquitectura com “um ar mais delicado, e até mesmo um pouco delicodoce”, acha Fernandez, mas também um exemplo dos projectos resultantes do “Inquérito”.
Casas nas dunas
Atravessando de novo o rio, os arruamentos da Praia do Suave Mar — um loteamento urbanizado por Viana de Lima nos anos 1960 — acolhem também uma meia dúzia de moradias da época modernista, com primeiras obras do já citado Pádua Ramos na sua parceria com José Carlos Loureiro (que haveria de prolongar-se até à década de 1990). Há também casas de Lixa Filgueiras, “que se distinguem pelas chaminés”, nota Paulo Guerreiro, e uma curiosa construção redonda em granito desenhada pelo engenheiro Eduardo Martins, que se notabiliza por recriar a forma dos moinhos tradicionais e desenvolver-se em três pisos desalinhados.
Saindo deste bairro algo labiríntico e sobre as dunas — até quando a força do mar irá permitir a sua sobrevivência?... —, terminamos este passeio na avenida marginal da cidade, que, de algum modo, nos permite regressar ao início — a um duplo início: o das casas “à Raul Lino” de que falava Agustina, com as duas moradias ainda projectadas nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial pelo engenheiro Jorge Manuel Viana (conhecido, no Porto, pelas casas do designado “Bairro de Hollywood”, entre a Boavista e o Campo Alegre); e a banda de casas de Viana de Lima — o arquitecto de Esposende.
Entrámos numa das casas do primeiro, actualmente habitada por uma sua sobrinha, Maria Antónia Pestana, professora reformada de Artes Visuais. “Estas casas eram feitas para passar férias, com divisões muito pequenas, onde só cabia o essencial”, diz a proprietária, notando que o seu tio “foi dos primeiros a fazer armários embutidos” para um melhor aproveitamento do espaço. “No início, eu era um bocado avessa a Esposende; tinha duas casas no Porto, mas decidi vendê-las e vim para aqui; agora não quero outra coisa, não troco isto por nada”, exclama Maria Antónia, ao mesmo tempo que nos mostra a sala de estar desta casa recuada da avenida e rodeada por um agradável espaço de jardim.
No interior, o chão em azulejo vermelho da sala, as paredes de granito e o tecto de madeira fazem jus à imagem exterior de uma “casa portuguesa”. “São construções muito bem-feitas, uma arquitectura superdelicada, com esta relação de continuidade exterior-interior que privilegia o conforto, e têm uma escala humana”, nota Sérgio Fernandez.
Antes de chegarmos às casas de Viana de Lima, passamos pela que foi desenhada e habitada por Arménio Losa, outra figura incontornável do modernismo portuense (também autor da Escola Primária de Esposende). Trata-se de uma moradia escondida da vista, entre os pinheiros, virada para o interior da terra. “Eu vinha para aqui muitas vezes; é uma casa de férias absolutamente elementar”, recorda Fernandez. É também uma casa-manifesto: sala, cozinha, dois quartos, paredes e muro de betão, cobertura em telha, tudo reduzido ao mínimo. “Não era muito bonita, mas o Losa não era dado a belezas”, acrescenta o arquitecto-guia, notando que o mais importante eram as relações entre as pessoas que as casas acolhiam.