Fugas - Viagens

  • A fusão dos negros da África subsariana com os habitantes do Magrebe resultou na gnawa, uma dança tradicional executada pelos berberes
    A fusão dos negros da África subsariana com os habitantes do Magrebe resultou na gnawa, uma dança tradicional executada pelos berberes Daniel Rocha
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  • Aicha, uma das mulheres que trabalha na cooperativa
    Aicha, uma das mulheres que trabalha na cooperativa Daniel Rocha
  • Hmad Bem Amar, um dos responsáveis pela revitalização do ksar El Khorbat
    Hmad Bem Amar, um dos responsáveis pela revitalização do ksar El Khorbat Daniel Rocha
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Majhoul, ou a tâmara mais saborosa do Sul de Marrocos

Nem todos os locais são aptos a permitir escavações subterrâneas, que se fazem entre os cinco e os 15 metros de profundidade. Na região de Tafilalet ainda há cerca de 150 khettaras activos, sobretudo entre as cidades de Jorf, Fezna e Hannabou. Karim Karroumi conduziu-nos a visita a um khettara em Khorbate.

Fazendo as vezes do chefe do khettara — que é coisa para ser tão importante como chefe da tribo —, Karim explica-nos que a abertura no cimo de cada um daqueles montes, onde está um balde e uma roldana, não serve para tirar água do poço. Para além de ventilação a quem quer que circule naquele canal escavado a 14 metros de profundidade, aquela abertura e aquele balde servem para retirar lama e assim manter o canal limpo para a água passar. Depois, já no interior do túnel, mostra-nos a técnica rudimentar de medir o tempo que cada membro da comunidade tinha de prestar no khettara. Uma tigela de madeira demora uma hora a encher, cada tigela cheia significa um nó no lenço, cada quatro nós no lenço significam o render da guarda, é o seguinte quem vem limpar a lama do túnel. “Quem não cumpre as regras do khettara tem de pagar uma multa: oferecer uma refeição a todos os membros da aldeia”. O “chefe” sorriu e não quis dizer quantas vezes por semana é que isso acontece.

 

Vale dos mil kasbahs e gargantas do Todra

Os kasbahs são autênticas fortalezas, apesar de se destinarem a apenas uma família. Mas será uma família alargada, entenda-se, uma vez que debaixo do mesmo tecto vivem várias geração. Distinguem-se pelas quatro torres que delimitam os seus altos muros, têm normalmente apenas uma porta de entrada e saída, e têm, por vezes um pátio central. São construídos apenas com lama e palha, usando uma técnica ancestral com recurso a moldes de madeira: os muros começam com uma base que pode chegar aos 80 centímetros de largura, e que se vai estreitando até chegar a metade. O tamanho de um kasbah depende muito do engenho do construtor, mas obedece sempre à mesma lógica. São construídos em patamares, os mais altos para vigia, o rés-do-chão para guarda dos animais. No primeiro andar estão os mais idosos, e à medida que a idade diminui a altura dos aposentos sobe — porque há mais destreza a galgar os degraus, muitas vezes altíssimos. Por vezes é possível encontrar kasbahs dentro de ksars, mas a verdade é que estão quase sempre isolados. E, hoje em dia, estão cada vez mais abandonados, como é possível contemplá-los ao longo do vale do Dades. Na estrada desde Tinghir em direcção às famosas gargantas do Todra, é impossível não ficarmos maravilhados com o contraste que desenham na paisagem.

Aqui a montanha tem um tom avermelhado, dando destaque à silhueta dos kasbahs antes destes mergulharem no verde do palmeiral e das árvores de fruto. É uma paisagem magnífica que nos prepara para o assombro que é chegar ao desfiladeiro do Todra. A “universidade da escalada”, como chamam aos penhascos que chegam a atingir os 300 metros de altura, tem um rio tímido e prazeiroso aos seus pés — pelo menos nesta altura do ano, mas não brinquemos com os elementos da natureza, que os restaurantes que ficaram votados ao abandono quando uma derrocada os inutilizou estão ali a lembrar-nos que, de repente, tudo muda. Esta história só torna o lugar mais impressionante — sendo que as cores daquelas paredes, com o sol a desenhar-lhes vários tons de vermelho, já eram impressionantes que chegue.

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