Fugas - Viagens

  • DR/Plum Village
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No maior mosteiro budista da Europa, o silêncio é um bem precioso

O objectivo é válido para miúdos e graúdos: ensinar-lhes competências para “que não tenham um burnout e consigam manter os sonhos e ideais que já tinham de levar a mudança para os hospitais onde trabalham, para as escolas, aos colegas do escritório”, exemplifica a freira britânica. É uma mulher muito expressiva e alegre, com um daqueles sorrisos fáceis e muito abertos. Ao longo dos dias, vemo-la muitas vezes sentada num recanto a conversar com algum dos participantes. Desabafam, pedem conselhos, explicações mais aprofundadas sobre as práticas. Há quase sempre alguém em fila de espera.

“Algumas pessoas vêm porque já praticavam algum tipo de espiritualidade, como reiki ou mesmo ioga, outras vêm porque alguém lhes sugeriu”, conclui Mathilde a uma das mesas do pátio, onde há sempre chás e café à disposição. As perguntas sobre como se descobriu Plum Village, porque se vem ou há quanto tempo são quase sempre as primeiras a quebrar o gelo. “Muitos estão a passar um mau período da vida e tu vês alguns chegarem aqui com uma cara mesmo fechada e no final da semana...” Mathilde abre um sorriso largo com a mão, simula um suspiro de alívio. “É tão bom assistir a isso. Adoro.”

Aos 22 anos, a francesa é simultaneamente a mais nova e a mais experiente do grupo. Tinha três anos quando veio pela primeira vez, com os pais e os irmãos. “Lembro-me de sentir saudades da freira que tomava conta das crianças e, quando voltei a vê-la no ano seguinte, de pensar que tinha uma cabeça muito estranha”, ri-se. “Não me lembrava que rapavam o cabelo.”

Os pais vêm cada vez menos, mas Mathilde volta todos os anos. “É uma forma de regressar a mim mesma, de ter tempo para relaxar, recordar os ensinamentos e viver de uma forma mais simples, sem pensar que tenho de estar naquele sítio ou comprar aquela coisa.” Dos diferentes retiros de Plum Village, é deste que mais gosta. “É importante ver...” De repente, um sino toca e todas as conversas e gestos ficam suspensos no ar. É um momento para cada um acordar para o aqui e agora e olhar para dentro de si. “Durante este retiro, vamos pedir-vos constantemente para voltarem a vocês mesmos. Porque a nossa tendência é sempre sair, sair, sair. Estamos sempre à procura de alguma coisa”, antecipava o irmão Phap Huu (Amigo) durante a primeira dharma talk do programa.

Todas as manhãs, um dos clérigos budistas dá uma palestra sobre os ensinamentos professados por Thich Nhat Hanh. Em Plum Village, os sinos funcionam como relógios e chamadas momentâneas à meditação. O tilintar cessa e as conversas retomam. “É importante ver que estamos todos no mesmo barco, a passar pelas mesmas lutas e dificuldades”, retoma Mathilde. “Muitas pessoas querem tornar o mundo num lugar melhor mas ao verem as notícias sentem-se impotentes. Aqui há tantos bons projectos que recupero sempre a confiança na humanidade.” Cada retiro, compara, é como “um shot de felicidade”.

Os contextos profissionais, sociais e económicos de quem participa são os mais variados. Em três dias, conhecemos astrónomos, informáticos, estudantes, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, professores, quem trabalhe em consultoras, em finanças, em seguros, gente em “anos sabáticos” ou a viajar pelo mundo. A maioria é europeia, mas também encontramos alguns asiáticos, norte-americanos, outros vindos da Austrália ou da Nova Zelândia, por exemplo. Jovens que cresceram em comunidades hippies ou que vivem em sanghas (comunidades budistas) e gente que chega a este universo espiritual pela primeira vez.

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