A partir das 20h, decorre a antestreia do filme Caminha Comigo – Uma viagem pela atenção plena com Thich Nhat Hanh, realizado por Max Pugh e Marc J. Francis. Filmado ao longo de três anos, o documentário propõe um “um trajecto cinematográfico pelo mundo da mindfulness [atenção plena]” e pelo quotidiano da comunidade monástica de Plum Village. O evento tem entrada livre.
Thich Nhat Hanh e Plum Village
De refugiados vietnamitas a empresários e cientistas
Depois do actual Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, Thich Nhat Hanh (90 anos) é provavelmente o budista mais conhecido no Ocidente. Em 1967, Martin Luther King recomendou-o para Nobel da Paz, distinção que o activista pelos direitos dos negros nos Estados Unidos recebera três anos antes. “As ideias dele para a paz, se aplicadas, construiriam um monumento ao ecumenismo, à fraternidade mundial, à humanidade”, escrevia Luther King em carta aberta. Nesse ano, tal como no anterior, o Nobel da Paz foi o único a não ser atribuído. Os dois pacifistas conheciam-se desde 1966, quando Thich Nhat Hanh, activista contra a guerra no Vietname, foi forçado ao exílio pelas duas forças do conflito. Só voltaria ao país natal 39 anos depois.
Exilado em França, começou por criar uma comunidade budista nos arredores de Paris, mas cedo rumou a sul, onde havia mais espaço, natureza e preços acessíveis. O primeiro mosteiro de Plum Village, hoje Lower Hamlet, abriu em 1982 para receber refugiados vietnamitas. Pouco depois, Thich Nhat Hanh – que quase todos tratam por Thay (professor) – adquiriu outra quinta vinhateira, situada a cerca de três quilómetros de distância, e fez dela novo mosteiro, Upper Hamlet.
Actualmente, a comunidade monástica divide-se por quatro espaços: um de monges, dois de freiras e um, a meio caminho (Middle Hamlet), que partilham e onde, por vezes, moram os leigos que ficam para longas estadias em Plum Village. Só no mosteiro francês, vivem mais de duas centenas de monges e freiras (durante o retiro estavam cerca de 50 monásticos e 20 civis que vivem actualmente em Plum Village). Mas a comunidade integra outros nove centros: em Paris, em Berlim (Alemanha), três nos Estados Unidos, em Hong Kong, Austrália, Tailândia e Vietname. São mais de 600 monásticos e cerca de 1000 sanghas espalhadas pelo mundo.
Durante décadas, Thich Nhat Hanh deu conferências um pouco por todo o mundo. Reuniu-se com líderes de empresas tecnológicas de Silicon Valley, esteve no Congresso norte-americano, no parlamento britânico, na UNESCO. Contribuiu para o acordo do clima firmado em Paris. “É incrível como, de ensinar refugiados na década de 1980, o nosso professor acabou a ensinar muitos empresários”, diz a irmã Hien Nghiem.
Em 2014, Thich Nhat Hanh sofreu um AVC e mantém-se muito debilitado, sem conseguir falar. “Sentimos muita falta dele. Adaptámo-nos mas ele, de certa forma, já nos tinha treinado para tudo, então basicamente fazemos como ele nos disse”, ri-se Hien Nghiem. Antes era Thay quem dava quase todas as palestras, agora monges e freiras revezam-se. Na comunidade, cada decisão é debatida e votada democraticamente entre todos, conta.