Fugas - Viagens

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No maior mosteiro budista da Europa, o silêncio é um bem precioso

Ao soar da enorme taça tibetana, a sessão começa. “I'm breathing in, I'm aware I'm breathing in. I'm breathing out, I'm aware I'm breathing out”. As frases repetem-se ao longo de meia hora. Primeiro ao microfone, depois no interior de cada cabeça, com pequenas variações de tempos em tempos. Estou a inspirar, estou ciente de que estou a inspirar. Estou a expirar, estou ciente de que estou a expirar. A lengalenga ajuda a manter a concentração no momento presente, para que o corpo não adormeça e o pensamento não se disperse por passados nem futuros.

O silêncio só não é absoluto porque há sempre quem respire mais profundamente, quem caia num bocejo furtivo, quem precise de dar movimento aos músculos dormentes. Mas é tão intenso que quase se ouve o dia nascer lá fora. Não resistimos a entreabrir os olhos de vez em quando. Aos poucos, as árvores à nossa frente vão ganhando cor. É então que percebemos que a audiência está distribuída para que todos possamos assistir ao mesmo espectáculo da natureza: as duas metades da sala estão viradas de costas entre si, cada uma de frente para uma fileira de janelas.

Novo repique de taças tibetanas e a sessão termina. Mas a meditação continua lá fora, agora em passo lento, muito lento, pela floresta. Inspirar ao avanço do pé direito, expirar ao avanço do pé esquerdo. E assim sucessivamente, mais quarenta e cinco minutos. O silêncio é tão mais intenso e impactante quanto compacta é a fila de gente ao longo do túnel de árvores. Inspira. Expira. Direito. Esquerdo. Algum galho que se quebra sob as solas dos sapatos e nada mais. Só depois do pequeno-almoço se começarão a ouvir as primeiras vozes. Sussurros, depois risos, como num despertar demorado. Todos os dias, repete-se o mesmo ritual matinal. As primeiras horas do dia são sempre partilhadas em silêncio e essa comunhão da palavra não dita e da lentidão dos gestos, durante tanto tempo, com tanta gente, em cenários e situações diferentes, é uma das experiências mais marcantes dos retiros de Plum Village.

Talvez por isso sejam estas as primeiras cenas de Caminha Comigo, o documentário de Max Pugh e Marc J. Francis, com estreia marcada nos cinemas portugueses a 28 de Setembro (ver caixa 1). Filmado ao longo de três anos e com um acesso sem precedentes, Caminha Comigo é uma pequena janela para o quotidiano da comunidade budista de Plum Village, fundada pelo líder espiritual vietnamita Thich Nhat Hanh no início da década de 80 (ver caixa 2).

Tal como a própria meditação, o filme é como uma experiência contemplativa: revela trechos do dia-a-dia e da história pessoal de Thich Nhat Hanh (90 anos) e dos seus discípulos sem interpelar, questionar ou explicar. Ao longo do filme, Benedict Cumberbatch narra excertos do diário escrito pelo mestre budista nos anos 60. “Sei o que é ter raiva e sei qual o prazer de se ser louvado. Muitas vezes fico à beira das lágrimas ou do riso. Mas debaixo de todas estas emoções, o que mais existe? Como posso tocar-lhe?”

Um shot de felicidade

Ao contrário dos outros retiros organizados anualmente em Plum Village, o Wake-Up Earth Retreat, em que participámos, é misto e dedicado a uma faixa etária específica: “jovens dos 16 aos 35 anos”. É uma fase particular da vida, muitas vezes acompanhada de questionamento, emoções difusas, incertezas quanto ao futuro e vontade de mudar o mundo. “O que fazemos nestes retiros é dar-lhes ferramentas para que consigam descansar, relaxar, revigorar o corpo e a mente, e para que aprendam a lidar com emoções fortes e a tomar conta deles próprios”, enumera a irmã Hien Nghiem (Dedicação).

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