O cenário é diametralmente oposto àquele que encontrara em 2002, quando visitou Plum Village pela primeira vez. Hien Nghiem tinha então 22 anos e vinha à procura da sabedoria que o canudo em Cambridge não lhe dera (ver caixa 3). “Lembro-me de pensar: oh, está ali outra pessoa jovem, se calhar devia ir apresentar-me porque somos os dois novos”, ri-se, reencenando o momento. Na altura, estima, os participantes com menos de 35 anos deveriam ser “menos de 5%”. Actualmente, e excluindo este retiro que lhes é dedicado, o grupo já deverá representar “provavelmente uns 30%” do total de visitantes ao longo do ano. Destes, pelo menos um terço vem pela primeira vez. Mas muitos são repetentes. “Alguns querem ir mais longe na prática ou experimentar coisas diferentes; outros pensavam que seria fácil continuar em casa e apercebem-se de que não é.” Brian, 27 anos, é dos que volta todos os anos para “refrescar” as práticas. Já fez sete retiros: três com monges de Plum Village na Irlanda, onde vive; quatro aqui. “Venho reconectar-me com este estilo de vida”, conta o estudante de fisioterapia. É que quando regressa a casa, assume, “a vida põe-se no caminho”.
De moda a arte de viver
De uma mania da geração hippie dos anos 60 e 70, a meditação – ou mindfulness, em inglês – está a ressurgir no Ocidente para tornar-se uma tendência de massas. Uma moda. Entre muitos millenials (e não só), é um verbo de encher para se ser cool, associado a uma nova vaga do saudável. Nas empresas, nos exércitos e nas escolas, uma ferramenta de relaxamento e aumento da produtividade, comprovada por testes científicos. Nos centros médicos, uma forma de reduzir a dor e os níveis de stress dos pacientes.
Em 2014, poucos meses antes de sofrer o AVC que o deixou muito debilitado e sem conseguir falar, Thich Nhat Hanh respondia à moda crescente: “não há problema, mas temos de nos recordar que a meditação é um caminho, não uma ferramenta”, conta a irmã Hien Nghiem. Embora admita que por vezes se assemelhe a uma terapia, é também mais do que isso. A meditação, defende, é parte de algo maior, “inseparável da tranquilidade, da concentração, da clarividência e, até, da ética”.
Em conversas com participantes, a maioria fala-nos sobretudo da utilidade ou dos benefícios da meditação, mas a tónica do retiro e dos ensinamentos de Thich Nhat Hanh vão sempre no sentido da transversalidade do conceito. No final do retiro, quem quiser pode comprometer-se com os Cinco Treinos de Atenção Plena, numa cerimónia que torna o acto solene. É um código ético universal, inspirado no budismo mas que pode ser praticado por pessoas de outras religiões, ateus e agnósticos.
Entre os valores promovidos estão, por exemplo, a reverência pela vida de homens e de animais, a protecção do meio ambiente, o não envolvimento em relações sexuais sem amor, a não-violência, o não consumo de drogas, álcool ou tabaco. “Não se pode desligar a meditação [ou atenção plena] da forma como se fala, se pensa, se age, se ganha a vida, da forma como se cultiva a mente ou se consome”, enumera a irmã Hien Nghiem. Através da meditação, defende, é possível desenvolver-se uma melhor ligação com o próprio corpo, com as emoções e com os pensamentos. Mas vai além disso: “dá sentido à vida”. Mais do que um conjunto de competências, é um estilo de vida. “A arte de [saber] viver.”