Fugas - Vinhos

  • Rui Farinha/NFactos
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  • Patrícia Martins
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  • Nelson Garrido
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Como se vende vinho português? Mostrando Portugal

Não é fácil explicar as diferentes categorias de vinho do Porto, por isso o melhor é dar a provar Portos com diferentes idades enquanto se tenta mostrar que esta é uma arte do tempo. “Há aqui vinhos que foram cuidados por gerações de pessoas que nem conheci”, lembra Carlos Flores. “Nós, a cada vindima, temos que pensar a 40 anos para a frente e perceber o potencial de envelhecimento do vinho.”

É certo que alguns dos ouvintes se perdem um pouco nas contas dos anos, mas ninguém tem dúvidas de que está a assistir a um momento especial quando Carlos Flores pede para servirem um Porto de 1910, engarrafado propositadamente para esta prova. A notícia é recebida com palmas. E o repórter da televisão de Moçambique não perde a oportunidade de fazer um “vivo” dizendo que aquele vinho tem mais de um século e que quem quiser uma garrafa só tem que a encomendar às caves Andresen – e pagar qualquer coisa como 3250 euros. Em 2010 foi lançada internacionalmente uma edição limitada de 120 garrafas, distribuída pela Lusovini, que teve os seus melhores compradores em Portugal e no Brasil.

O dia termina com uma visita e jantar no Palácio da Bolsa, no Porto. Oportunidade para uma primeira conversa com Anselmo Mendes, enólogo da região dos Vinhos Verdes, que no dia seguinte iria fazer a mais fascinante apresentação de toda a viagem. Afinal, de que falamos quando falamos de Vinhos Verdes?

Do Porto a Nelas

A resposta à pergunta acontece de manhã na Comissão dos Vinhos Verdes. Anselmo Mendes conta a história destes vinhos especiais nascidos de vinhas que crescem no Minho, especialmente nas zonas de Monção e Melgaço, e recorda a sua própria história, que nos últimos anos se confunde com a dos Vinhos Verdes e sobretudo com o reconhecimento de uma casta excepcional: o Alvarinho.

“Criou-se a ideia de que o Vinho Verde é um tipo de vinho porque tem esta designação enigmática”, diz. Mas não se trata de uvas verdes por oposição às maduras, Verde é o nome de uma região e julga-se que a expressão terá ganho força no século XVIII, embora haja indícios de que possivelmente já no século XIV se exportava este tipo de vinho, fresco, com baixo teor alcoólico e bastante acidez, para a Inglaterra.

À nossa frente na mesa estão quatro copos, três com vinho feito de apenas uma casta (um Alvarinho, um Loureiro e um Avesso, casta característica da região de Baião) e na quarta o vinho produzido por Anselmo Mendes e a Lusovini, que junta estas três castas e ao qual chamaram Mito.

Os convidados têm perguntas: este vinho deve ser consumido novo? A acidez aumenta com a idade? O vinho tinto faz melhor à saúde que o branco? Porque não experimenta um blend de Avesso e Alvarinho? Há tempo para algumas respostas mas é preciso acelerar porque o produtor Domingos Alves de Sousa espera-nos na sua nova adega, no Douro.

E no Douro, naquela que foi considerada uma das melhores estradas do mundo para conduzir, é impossível não se ficar deslumbrado com a paisagem das vinhas em socalcos. Dentro do autocarro todos fazem equilibrismo para tentar tirar a melhor fotografia, até que chegamos à adega da Quinta da Gaivosa, uma das seis quintas da família Alves de Sousa, trabalhadas por Domingos e o seu filho Tiago.

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