Fugas - Vinhos

  • Rui Farinha/NFactos
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  • Patrícia Martins
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Como se vende vinho português? Mostrando Portugal

Já nos restam poucas horas para dormir mas o histórico Hotel da Urgeiriça, em Canas de Senhorim, espera por nós. Criado em 1930 por Charles Harbord, oficial superior do exército inglês, começou por ser o English Hotel Urgeiriça. Aqui passaram férias figuras famosas, entre as quais Salazar e a escritora francesa Christine Garnier, autora do livro Férias com Salazar. O hotel guarda o charme dos tempos antigos na sua sala de jantar com grandes quadros de reis, nas confortáveis cadeiras no alpendre exterior, nos chalés, e nos quartos, sobretudo os da ala mais antiga.

É num deles que acordamos no último dia desta viagem, a pouco tempo do regresso a Lisboa, para olhar ainda a névoa que, na manhã límpida, desenha nuvens entre o jardim romântico aos nossos pés e a serra da Estrela no horizonte. E, mais importante do que isso, para recuperar o nosso queijo, que passou a noite na varanda a apanhar o fresco que faz aqui neste tempo que é já das primeiras vindimas.

E se alguém lhe pedir um Cabernet Sauvignon?

Eduardo Araújo calcula que perto de 90% dos clientes que entram na sua loja, a Santa Adega, na cidade brasileira de Florianópolis, pedem um Cabernet Sauvignon. “O brasileiro conhece os vinhos pelas castas. Chegam pedindo Cabernet Sauvignon ou Malbec.” Isto dificulta a tarefa a quem tenta vender vinhos portugueses, que têm castas locais, desconhecidas para o resto do mundo. “Hoje os vinhos portugueses começam a ser mais conhecidos pelas regiões, as pessoas já vão identificando o Douro, o Alentejo”, afirma o sommelier. Mas ainda há muito trabalho a fazer.

O mesmo acontece nos Estados Unidos. A descrição é praticamente igual: “O americano consome por casta, cada uma está aliada a um perfil de sabor”, conta Pedro Veloso, da Wine in Motion, empresa que representa várias marcas de vinhos portugueses na costa leste dos EUA. “As mais conhecidas são Cabernet e Chardonnay, as grandes castas da Califórnia, e também Merlot e Sauvignon Blanc.”

Além disso, acrescenta, “o mercado americano é provavelmente o mais saturado de oferta de vinhos de todo o mundo. Há vinhos do Chile, da Argentina, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, toda a Europa. Portugal, com todo o trabalho que já foi desenvolvido, ainda representa apenas 2% das importações. É muito pouco. O vinho português é desconhecido, as pessoas não têm a percepção de qual o valor agregado a uma região, um enólogo ou uma casta. Tudo tem que ser explicado de raiz.”

Para se fazer esse trabalho é preciso conhecer bem o produto que se está a vender. Por isso é que a produtora e distribuidora Lusovini convidou Eduardo Araújo, Pedro Veloso e outros clientes seus de alguns dos países para onde exporta para virem conhecer melhor Portugal (ver texto principal).

Carlos Moura, um dos sócios da Lusovini, afirma que a criação de um laço afectivo com Portugal é fundamental. Em alguns destes países, nomeadamente Brasil, Angola e Moçambique, esse laço existe, mas é preciso alimentá-lo. Dá o exemplo do Brasil. “É um país com uma ligação fortíssima a Portugal, mas onde há uma pressão enorme dos vinhos chilenos, argentinos, italianos, franceses.” Portugal ocupa apenas o terceiro lugar no ranking de vendas.

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