Fugas - Vinhos

  • Rui Farinha/NFactos
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  • Patrícia Martins
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  • Nelson Garrido
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Como se vende vinho português? Mostrando Portugal

Projectada pelo arquitecto Belém Lima, a adega foi pensada para ir revelando, através de grandes janelas estrategicamente colocadas, a magnífica paisagem à nossa frente. Também aqui a vindima já começou e as uvas estão a chegar, a entrar na máquina onde são separadas do bagaço e, por gravidade, vão parar à moderna adega onde se fazem vinhos como o Tapadinha.

É precisamente o Tapadinha que vamos beber ao almoço no restaurante D.O.C., do chef Rui Paula, na margem do Douro, a acompanhar o camarão de Moçambique com cogumelos e puré de trufa preta, o polvo grelhado ou o cachaço de porco bísaro com batata doce, enquanto Alves de Sousa fala do seu mais recente projecto: uma vinha nova, plantada este ano, mas de forma tradicional, com todas as variedades misturadas. “No futuro, quando aqui vierem é desta vinha que se vai falar”, garante.

Deixamos o produtor ocupar-se da vindima e partimos para Viseu, que nos últimos tempos tem vindo a assumir-se como a capital vinhateira da região do Dão, e onde jantamos no restaurante Mesa da Sé. No jantar está também João Paulo Gouveia, produtor histórico do Dão (do vinho Pedra Cancela) e vice-presidente da câmara. É ele que no dia seguinte, de t-shirt, calças de ganga e boné, nos vai dar mais uma lição sobre viticultura.  

De Nelas a Lisboa

Ser o número dois da autarquia de Viseu não impede João Paulo Gouveia de se pôr de joelhos na terra e começar a escavar para nos mostrar o que é um porta-enxerto e o lugar exacto da videira onde a vitis vinifera (a videira produtiva mas sensível à praga da filoxera) se liga ao porta-enxerto, a técnica que permitiu salvar as vinhas na Europa depois da grande praga do século XIX. O enólogo pede-nos para apanharmos folhas das diferentes castas e ensina-nos a fazer a comparação — mais peluda, menos peluda, mais recortada, menos recortada, e agora, reparem no tipo de cacho, mais fechado ou mais disperso. Estamos atentos, mas não vai ser fácil decorar tudo.

Dá, no entanto, para perceber como estes solos mais arenosos, de origem granítica, dão uma acidez e uma elegância particulares aos vinhos daqui, que vamos provar ao almoço na Feira do Vinho do Dão, em Nelas — almoço que é apenas um treino para o grande jantar que vai encerrar esta viagem. Esse, da responsabilidade do chef Diogo Rocha, do restaurante da Quinta de Lemos, vai ser servido na Adega de Nelas, comprada pela Lusovini em 2013 e que hoje é a base desta empresa que faz vinhos em Portugal mas vende-os pelo mundo. É aí que, diz Casimiro Gomes, esperam vir a criar um Centro Interpretativo do Dão.

Alguns dos convidados dizem que gostavam de conhecer uma queijaria de Queijo Serra da Estrela. No final do jantar — onde foram apresentados mais novos vinhos, o Varanda da Serra e o Flor de Nelas (em homenagem a Emiliano António da Costa Campos, um dos fundadores da Adega de Nelas), ambos da enóloga Sónia Martins — parece tarde para pensar em queijos. Mas Pedro Pais e a mulher, Maria João, da Queijaria da Lagoa, acreditam que nunca é tarde de mais para pensar em queijos e é assim que à uma da manhã estamos nesta queijaria a provar um Queijo Serra da Estrela acompanhado por um Pedra Cancela Branco e a ouvir a história de mais uma paixão familiar.

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