Fugas - Vinhos

  • Rui Farinha/NFactos
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  • Patrícia Martins
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  • Nelson Garrido
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Como se vende vinho português? Mostrando Portugal

O erro foi feito “há 30 ou 40 anos”, numa altura em que os vinhos portugueses dominavam as vendas no Brasil. “Descurámos o mercado, achámos que não entendia de vinhos, começámos a mandar produto de fraca qualidade, enquanto o Chile e a Argentina começaram a grande aposta em termos de divulgação.” Carlos Moura, que passa muito tempo em São Paulo, a cuidar da Brasvini (a empresa da Lusovini no Brasil), afirma que nos últimos dez anos houve mudanças. “Portugal tem ganho bastante preponderância no Brasil mas a um custo enorme de investimento.”

É importante conhecer bem os mercados. O Brasil é grande e Florianópolis, que fica perto de uma região de produção de vinho, tem características diferentes de, por exemplo, o Recife. É daí que vem Paulo Moura, outro dos convidados nesta viagem e dono de uma importadora desde 2013. “No Recife há muitas famílias portuguesas e a entrada do vinho português é mais fácil. Além disso, temos um clima tropical, com temperaturas altas e, apesar de se consumir mais cerveja, há um bom potencial para os vinhos brancos.”

O consumo tem vindo a mudar. “Hoje é chique você ir a um aniversário e levar um vinho bem embalado, ou ir a uma sala de degustação. Tudo isso é novo, tem uns cinco anos.” Mas, na opinião de Paulo Moura, um dos grandes trunfos de Portugal continua a ser o preço. “O brasileiro quer um vinho que não custe mais de 15, 20 euros”. O problema é que os impostos sobre bebidas alcoólicas são elevados e acabaram de aumentar mais uma vez.

Esse é um problema que se coloca também em Moçambique. Manuel Manoj, proprietário de uma distribuidora em Maputo, tem assistido às mudanças. “Depois da independência, a presença dos vinhos portugueses caiu bastante. Agora está outra vez a aproximar-se dos 50% do mercado.” O maior desafio, neste caso, vem da África do Sul. “Se importamos vinhos da África do Sul não pagamos direitos, apenas a taxa de luxo, enquanto os que vêm de Portugal têm que pagar muito mais taxas”, lamenta. “O Governo português devia criar acordos com Moçambique para incentivar a exportação.”

Em Angola a situação é diferente, descrevem Hortência e José Sebastião, donos do Cantinho do Sossego, em Luanda, restaurante que serve comida angolana e portuguesa. Aí, o peixe ou o marisco grelhados, a feijoada ou os rojões são sempre acompanhados por vinhos portugueses. “As pessoas só querem o vinho português. Temos algum vinho chileno ou sul-africano mas não tem saída. Os outros vinhos nunca conseguiram penetrar no mercado angolano”, dizem.

No entanto, sublinha Carlos Moura, “se descurarmos o nosso trabalho, os chilenos vão ganhar quota de mercado em Angola também”. Os mercados podem ser diferentes mas o trabalho é semelhante, seja no Brasil, em Angola, Moçambique, EUA ou China. “Temos que afirmar o nosso vinho como sendo de Portugal e com uma excelente relação qualidade-preço. O que queremos é dar mais do que os outros países pelo mesmo dinheiro. É essa a nossa grande aposta.”

Por isso, se um cliente pedir um Cabernet, o que há a fazer é perguntar-lhe: “Já ouviu falar em Touriga Nacional?”.

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