Até porque no Mocotó tudo mudou e nada mudou. É verdade que um dia, aproveitando uma ausência do pai, Rodrigo — que por vontade do pai tinha ido estudar Engenharia Ambiental, mas que sonhava era com cozinha — fez obras no restaurante. “Madrugadas adentro com pedreiros, encanadores e electricistas e o boteco foi se ajeitando”, lê-se na história da casa, que acompanha o cardápio. “Quando o pai voltou, tomou um susto. E o filho uma bronca.” Mas no final tudo deu certo.
Rodrigo foi estudar gastronomia, viajou pelo Brasil, explorou o universo das cachaças (o Mocotó é também cachaçaria) e voltou cheio de ideias. “A nossa é uma cozinha marginal, relacionada à escassez, à pobreza, e foi preciso um trabalho de muito tempo para fazer diferente aos olhos do público, da imprensa”, contou Rodrigo à Fugas, durante uma vinda a Portugal, onde cozinhou na Herdade da Malhadinha, no Alentejo. “O meu pai fundou a casa em 1973, há 40 anos, e eu estou lá há 20 anos, comecei lavando pratos. Eu sou paulistano, mas os meus pais são do interior do estado, e essa é a nossa herança, o nosso chão.”
No Mocotó, as paredes são pintadas de cores vivas, com desenhos, os empregados são simpáticos, o ambiente é mais de boteco do que de restaurante, e a comida é generosa, dos atolados ao feijão de corda, do baião-de-dois (feijão com arroz e ainda queijo coalho, bacon e linguiça) à carne de sol, pratos nordestinos que o Seu Zé Almeida sempre fez, e que Rodrigo trabalha agora de uma maneira um pouco diferente, mas fiel ao espírito de sempre desta casa. Numa das paredes lê-se uma frase que resume a filosofia do Mocotó: “Considero amigos caros, comemoro sabores raros”.
Mocotó
Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100
Vila Medeiros, São Paulo
Tel.: +55 11 29513056
Encerra domingo ao jantar
Preço médio: entre 15 e 20 euros
Brasil a Gosto
Ana Luiza Trajano
Nunca se sabe por onde Ana Luiza Trajano pode estar viajando. Geralmente é algures pelo interior do Brasil, pesquisando para os seus cardápios — um trabalho de pesquisa e de recolha de informação sobre produtos, receitas e formas de cozinhas de todo o Brasil, que traz depois para o seu restaurante de São Paulo, o Brasil a Gosto.
Neta de uma avó cearense e outra mineira, tirou o curso de administração de empresas num tempo em que a cozinha ainda não era bem vista. Foi só em Itália que se apercebeu como os italianos valorizam a sua gastronomia — e começou a pensar por que é que os brasileiros comiam a sua comida e os seus produtos em casa, mas quando iam aos restaurantes só valorizavam o que era estrangeiro. A partir de 2005 começou a viajar pelo Brasil, não perdendo nunca um mercado, uma feira, falando com toda a gente, tentando perceber o que comiam, o que cozinhavam. Em 2006 abriu o Brasil a Gosto, mas a pesquisa não está nunca concluída — a par do trabalho no restaurante, Ana Luiza continua a viajar.
O resultado das viagens (para além do livro Cardápios do Brasil) são menus temáticos no restaurante, onde quem vive ou visita São Paulo pode descobrir, por exemplo, o que comem as tribos indígenas que habitam longe de tudo no interior do país — e que Ana Luiza também visitou.
- Nome
- Restaurantes de São Paulo
- Local
- Estrangeiro, Brasil, Sao Paulo
- Telefone
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