Fugas - restaurantes e bares

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Feitoria: João Rodrigues dá-nos a ver esta matéria que nos alimenta

Por Alexandra Prado Coelho

Com o menu “Matéria”, João Rodrigues, do Feitoria — que acaba de ser considerado o melhor chef do ano pelos Prémios Mesa Marcada —, quer mostrar que por trás do que comemos há mar, terra, sangue, esforço e vida.

Está vento e frio. O mar está agitado e o pequeno barco com dois homens lá dentro salta quando apanha as ondas de frente. Vem do Baleal, da apanha de percebes, e nós estamos a vê-lo chegar, enrolados em casacos e cachecóis, ao lado de João Rodrigues, chef do restaurante Feitoria, do Hotel Altis Belém, em Lisboa, e de Joel, o proprietário da Tasca do Joel, famosa casa de Peniche.

Está um daqueles dias em que quase não dá para ir ao mar. Mas o mergulhador que faz a apanha dos percebes em profundidade foi, apesar de tudo. “O problema é a rebentação, hoje está impossível. Com a força das vagas quase não se consegue chegar à pedra. São precisos quatro ou cinco mergulhos para apanhar alguns percebes”, diz.

Mesmo assim, passou várias horas no Baleal, que neste momento não está em defeso, ao contrário das Berlengas, local óptimo para a apanha de percebes. “O percebe do Baleal é mais pequeno mas é mais saboroso”, explica Joel, entusiasmado também com a notícia de que há uma nova espécie de gamba que nos últimos dias começou a aparecer por aqui e a que os locais chamam o “camarão marreco”.

O mergulhador salta do barco e mostra o que conseguiu apanhar: um balde com percebes enormes — “só se conseguem grandes na apanha com mergulho, quem fica na pedra tira os pequenos” —, uns quatro ou cinco pepinos do mar, espécie de lesmas gigantes muito apreciadas pelos chineses, uma boa quantidade de mexilhões e uma dúzia de ouriços-do-mar. “Dos pepinos só se aproveita a tripa”, diz João Rodrigues, pegando num dos animais para exemplificar como se faz.

Joel e o sócio, Tiago, são desde há alguns meses os fornecedores de todo o peixe e marisco que João Rodrigues está a usar no Feitoria — e que está no centro do novo menu “Matéria”, que criou para marcar a reabertura do restaurante, no dia 26 de Janeiro.

Vamos a Peniche na véspera da reabertura do Feitoria e os percebes que acabam de chegar vão estar no menu. O grande problema destes, vai explicando o mergulhador, é que são cada vez menos nos locais da costa portuguesa onde antigamente existiam em grandes quantidades.

“Somos 45 apanhadores, a lei permite 20 quilos a cada um, o que, se todos apanharem, faz uns 900 quilos por dia.” A isto soma-se a apanha não autorizada e a falta de fiscalização da forma como os percebes são apanhados. Quem vai para as rochas apanha os mais pequenos e não dá tempo para eles crescerem. “Eles até crescem rápido. Se parassem toda a apanha no Baleal, num ano aquilo ficava um jardim.”

Mas João Rodrigues não veio apenas pelos percebes. Seguimos para o armazém de Joel e Tiago para ver o que eles reservaram para o chef. Joel tira de uma caixa com gelo uma lula gigante, apanhada nas Berlengas. João fotografa um goraz belíssimo e avalia um linguado. “Ficas com as bruxas?”, pergunta-lhe Tiago.

Sim, as bruxas vão seguir para Lisboa, mas antes disso, para as podermos fotografar melhor, Tiago tira-as do balde e coloca-as no chão. De um aquário tira um lavagante e uma santola e traz também várias sapateiras. A sessão fotográfica é vista pelos animais como uma oportunidade de fuga e cada um começa a tentar escapar-se para um lado diferente. Joel apanha a santola e Tiago vai atrás das sapateiras.

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