Vale a pena olhar para a ementa da Adega da Tia Matilde, porque é nela que se acumulam as razões do êxito da casa. Ao contrário do que se poderia pensar, um habitual frequentador de restaurantes raramente gosta que o surpreendam com propostas de novos cozinhados. O seu arsenal de conhecimentos na matéria é diminuto. Mas, se não gosta de surpresas, admite muito menos que o sirvam de forma descuidada e lhe coloquem no prato cozinhados pouco apurados ou confeccionados com produtos de baixa qualidade.
Os frequentadores da Tia Matilde sabem que nenhum destes percalços lhes sucederá. E, em caso de acidente acidental, tudo será feito para que o mal seja reparado. O bom nome de uma casa também passa por aqui. O que domina, porém, neste antigo restaurante lisboeta é uma cozinha de mulheres, trabalhada com rigor e carinho, muito bem apaladada e com pormenores que nos remetem para os cozinhados de nossas casas. A empatia é imediata.
Atentem na ementa do almoço do passado dia 8 de Janeiro, uma quinta-feira, dia em que muitos restaurantes de Lisboa não dispensam o cozido à portuguesa. Na Adega da Tia Matilde não o servem. Em alternativa há arroz de frango à Tia Matilde (cabidela) (11 euros), coelho bravo à caçador (15 euros), perdiz estufada (19 euros), cabrito no forno (cordeiro) (14 euros), pato corado com arroz (13 euros), coelho no forno (2 pessoas) (22 euros), carne de porco à alentejana (14 euros) e lombo de porco no forno (12 euros); os dois últimos integram a ementa fixa. Neste pequeno núcleo encontramos algumas das técnicas fundamentais do cozinhar português: guisado, estufado, assado no forno e confecção do arroz. Também alguns dos nossos pratos mais emblemáticos. E pelo menos um cozinhado, o coelho manso assado no forno, que raramente encontramos em restaurante, mas que na casa de alguns de nós é ou foi prato dos almoços de domingo.
Os mesmos comentários se podem estender aos pratos de peixe desse dia: caldeirada à Tia Matilde (21 euros), lulas recheadas com puré de batata (17 euros), sopa rica de peixes (2 pessoas) (22,5 euros), linguado frito com arroz de grelos (22,50 euros), rodovalho frito com arroz de grelos (20,50 euros), pargo cozido (21 euros); os três últimos são parte da ementa fixa. Caldeirada à Tia Matilde porquê? Pelos peixes que a integram, apenas quatro, não por acaso estes quatro: eiroses (enguias de tamanho médio/grande), safio (só postas abertas e praticamente sem espinhas), tamboril (que não tem espinhas, apenas cartilagens) e choco (este é que não tem mesmo espinhas). Além dos peixes, cozinhados no ponto e não espapaçados, umas rodelas finas de batatas, umas fatias de pão torrado, tudo embebido num caldo delicioso (absolutamente imperdível, que deixa as massadas, agora tão na moda, num chinelo), em que também entram cebola às rodelas, falhas de alho, salsa, tomate maduro (pouco), pimentos (verdes e vermelhos) em quantidade moderada e um nadinha de picante.
- Nome
- Adega da Tia Matilde
- Local
- Lisboa, Nossa Senhora de Fátima, Rua da Beneficência, 77
- Telefone
- 217972172
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:00 às 00:00
- Website
- http://www.adegatiamatilde.com
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Trad. Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Sim