Fugas - viagens

Nelson Garrido

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O regresso dos moinhos

Sete visitas que valem a pena


Moinho do Belmiro, Parque Biológico de Gaia: Uma cama entre cereais

André Morais vai repondo, com calma, os utensílios no sítio certo. A quelha e o tramelo já não estão como deviam, desde que o último grupo de visitantes invadiu o Moinho do Belmiro, no Parque Biológico de Gaia. A curiosidade e energia dos mais novos extravasa, muitas vezes, para o manuseamento incorrecto (e, por vezes, proibido) de tudo o que vão vendo. Mas, aparentemente, não há nada a fazer, excepto repor tudo nos devidos lugares. O moinho, cujas origens remontam ao século XVII, foi completamente restaurado em 1991, e está de portas abertas a todos os visitantes do parque.
A casa de pedra e janelas e portas avermelhadas situa-se nos terrenos da antiga Quinta de Santo Tusso - uma das que foi integrada no Parque Biológico. Quando não tem crianças a correr para cima e para baixo nos seus diferentes pisos, é um local sossegado, onde se ouve a água que faz girar as mós deste moinho de rodízio horizontal. Mas só quando é preciso, como durante os ateliers Dos cereais se faz a broa, que o parque organiza amiúde. No resto do tempo, limita-se a mostrar-se parado e sossegado, como mais uma das várias atracções do parque.

O Moinho do Belmiro tem a particularidade de possuir espaços mobilados que mostram, como uma fotografia a três dimensões do passado, como viviam os seus habitantes. Além dos equipamentos de moagem do milho e centeio (os cereais que moeu até 1960, ano em que o moleiro, conhecido como Zé Gordo, fez girar as mós pela última vez), o edifício preserva um quarto de dormir e uma cozinha, mobilados à moda do princípio do século passado.

A entrada no moinho faz-se pela eira coberta, onde está instalado um pequeno Museu das Alfaias. Daí, desce-se por alguns degraus para espreitar o quarto, e mais uns degraus para olhar a cozinha, dominada por uma lareira. A sala principal é, claro, a sala das mós, com quatro a funcionar segundo o método tradicional (água) e uma, mais moderna, movida a electricidade. Se se aproximar desta última, que possui a pedra do topo partida, é muito fácil ver como a pedra inferior está coberta de finos sulcos, completamente "picada", para que o cereal espremido e moído seguisse o caminho destes veios até cair para o chão.

O edifício tem mais um segredo. Na sala das mós, quatro ou cinco degraus descem até uma porta que se abre, ao nível da água, deixando ver, mesmo ali ao lado, o funcionamento do rodízio, a girar ao sabor da água. A tradição chama a esta espreitadela "a descida ao inferno", embora, ali, nada o sugira.

No Parque Biológico de Gaia, o Moinho do Belmiro é o único que está recuperado na totalidade, mas é possível espreitar mais dois exemplares, ainda à espera de um futuro mais activo. O Moinho do Chasco, de uma mó só, servia apenas a Casa do Chasco, ao contrário do do Belmiro, que era um moinho industrial. Quase em ruínas, o Moinho da Casa da Cunha de Baixo será o mais antigo do parque - sabe-se que já existia em 1600, e está hoje em ruínas. [Patrícia Carvalho]

Visitas: Parque Biológico de Gaia | 4430-757 Avintes |  Tel.: 22 7878120 | www.parquebiologico.pt
Horário de Funcionamento: Primavera e Verão, das 10h00 às 20h00; Outono e Inverno, das 10h00 às 18h00. Ao fim-de-semana, das 15h00 às 17h00 é possível realizar visitas guiadas ao Moinho do Belmiro.

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