Moinho de Aboim, Fafe: O solitário de pedra
Jorge Miranda conta a história no livro Portugal - Terra de Moinhos. Entre 1923 e 1926, Daniel Gonçalves Pereira, um lavrador de Aboim, transformou em realidade o sonho de construir, na sua terra, um moinho de vento. Fê-lo com particularidades ainda visíveis e erros fatais que provocaram a sua destruição, menos de um ano depois de estar concluído. O pequeno edifício circular em pedra, com quatro velas, e que domina toda a aldeia, foi reconstruído entre 2007 e 2008, pela Etnoideia (a empresa de Jorge Miranda), que pôs em prática a sugestão da Junta de Freguesia de Aboim.
Para chegar a Aboim, no concelho de Fafe, é preciso subir por estradas onde nos aconselham a andar devagar por causa dos animais à solta (a nós, calhou-nos um grupo de garranos, que atravessou a rua mesmo à nossa frente) e onde os montes em redor estão cobertos de eólicas que, em alguns casos, estão tão perto das casas que parecem ir arrancar os telhados num movimento das suas pás. Junto ao moinho, o senhor Artur aguarda, de guarda-chuva na mão e sob um vento cortante, no topo do monte de onde se avistam as serras em redor e o rio Ave a serpentear, largo, ao fundo.
Se quiser ver o interior do moinho e ele estiver com a porta fechada, o senhor Artur é a pessoa que deve procurar, porque é ele quem guarda a chave. "Estou sempre por aqui", garante. Ajudado por dois homens, colocou as velas que permitem ver o moinho completo, como se estivesse pronto a funcionar. Pouco depois, as mesmas mãos retiram os panos brancos, para que o vento não as arranque e para que não se corra o risco de um acidente como o dos finais da década de 20, que deitou por terra (literalmente) o sonho de Daniel.
Lá dentro, o espaço é apertado. Por uma escada sobe-se ao primeiro andar, onde quase só há espaço para a mó, e o presidente da Junta de Freguesia de Aboim, António José Novais, de quem partiu a ideia de reabilitar o moinho, aponta as duas especificidades deste moinho de vento - o único moinho de vento da região, onde quem mais ordena são os moinhos de água. Talvez por isso, a mó que Daniel usou no seu moinho não era própria de um moinho de vento, mas sim de um de água. Esta é uma das razões que tornam o moinho de Aboim único. A outra é o facto de as vigas que sustentam a mó serem em pedra - um erro fatal, já que o material não aguentou a trepidação causada pelo movimento da moagem e partiu. Hoje, a viga danificada está emendada e protegida por mais pedra, graças à intervenção de Jorge Miranda.
No exterior, o senhor Artur e os seus ajudantes mostram como é possível fazer rodar o suporte em que assentam as velas, para que estas possam encontrar o vento, seja qual for a direcção de que ele sopra. E, ali em cima, ele sopra muito.
Para visitar o moinho de vento de Aboim pode procurar o senhor Artur ou, em alternativa ligar com antecedência para a Junta de Freguesia de Aboim, avisando quando irá aparecer. O mesmo deverá fazer se quiser visitar o pequeno museu em que foi transformada a antiga escola primária da aldeia, e onde é possível ver algumas imagens sobre a região e descobrir um pouco da história da aldeia. [Patrícia Carvalho]
Visitas: moinho, à partida, está aberto. Se chegar sem avisar, procure o senhor Artur Rodrigues, que mora nas imediações e é quem tem as chaves. Para uma visita mais segura, contacte com antecedência a Junta de Freguesia de Aboim (Fafe), pelo telefone 253 657 285. Este contacto é essencial para poder visitar o pequeno museu da aldeia, que encontrará fechado se não marcar previamente a visita.
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