Fugas - viagens

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Do Dubai até à Índia há mais do que um mar de distância

Há esqueletos de prédios assombrados por gruas, locais de construção que parecem abandonados e há arranha-céus para todos os gostos e feitios (kitsch, fantasiosos, sóbrios) - não é à toa que o Dubai é conhecido como o paraíso dos arquitectos (recreio?) e o desafio dos engenheiros. Se o turismo já substituiu o petróleo como maior fonte de riqueza do país também é devido a estas excentricidades (que incluem a famosa ilha-palmeira artificial, Palms Jumeirah e o novo "arquipélago", "O Mundo") e a uma tendência iniludível para os excessos: o mais alto edifício, que tem ao lado o maior centro comercial do mundo (e neste, o aquário ostenta o maior painel acrílico do mundo), o maior anel de ouro do mundo e virá o maior aeroporto do mundo, entre outros. Tudo numa escala sobre-humana (pessoas a pé não se vêem) entre ordem e limpeza eloquentes.

É entre este cenário futurista que descobrimos a mais antiga "torre de vento", um sistema de "ar condicionado" primitivo, no complexo do "palácio" onde funcionava o governo do Dubai até há menos de 50 anos. Do primeiro andar do edifício modesto avistase o moderno e aí percebe-se o abismo que separa o Dubai de sempre do Dubai de agora - um quase entreposto de beduínos, organizado em tribos, e o estado e cidade do futuro.

E, assim, voltamos ao passado no "velho" Dubai, que ainda existe, buliçoso e colorido, depois da Grand Mosque, no início da "rua dos tecidos". Multidões na rua a desaguarem nos vários ancoradouros de dhows versão transportes públicos: a viagem é curta e animada, os barcos típicos cruzam-se carregados de gente. Na outra margem, vamos aos souks (o "normal" e o do ouro), luzes a acenderem-se: elas desfilam de vestes tradicionais, negro integral, eles de kandura (as longas túnicas brancas) e sabemos que são autóctones - os imigrantes pobres, a maioria da população, vestemse de forma modesta, coloridos gastos.

Dia 2

Quando o Brilliance of the Seas finalmente zarpa deixando para trás o skyline do Dubai, o cruzeiro "começa". Estamos há 24 horas no barco e começamos a desvendarlhe os segredos. A verdade é que saltámos muitas etapas (inclusive a de ler atentamente a informação fornecida), mas não esquecemos o primeiro aviso: agarrar-nos ao Sea Pass como à vida. Com este cartão magnético abrimos a porta da cabina, pagamos os consumos extras (bebidas alcoólicas, Internet e excursões, por exemplo) e, importante, é a única forma de entrar no navio.

Isso sabemos, portanto. O resto, os códigos de funcionamento (e até de comportamento), temos 12 dias para descobrir. E para desfrutar. Começamos na cabina, no deck 8, temos o privilégio de uma parede em vidro e uma varanda para lá dela; no interior cama king size fofa, área de estar e casa de banho surpreendentemente "espaçosa". Às vezes damos por nós a não querer sair - e, sim, é quase uma blasfémia perante o que este navio tem para oferecer.

Que não é nada de outro mundo, asseguram-nos outros viajantes experimentados. "Para mim, este não tem nada de especial", explica a portuguesa Maria Olinda Castro, 62 anos, que no ano passado viajou no Oasis. "É óbvio que este é muito diferente. É razoável". Porém, nós somos marinheiros de primeira viagem e o Brilliance of the Seas, mesmo longe das ofertas dos companheiros de elenco na RCI, é suficiente. Até para os mais experimentados o parece ser. "Para mim, este é o ideal", afirma Ian, apesar de o barco "não ser novo, vemos que serviu muitos anos" (desde 2002). É ideal "pelo tamanho, leva 2200 passageiros, mais é de mais"; "pelo charme, inexplicável", "pelo atendimento, mais familiar", completa Andy. "São estas pequenas coisas que o tornam especial", concluem.

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