Fugas - viagens

Do Dubai até à Índia há mais do que um mar de distância

Por Andreia Marques Pereira

Foi a viagem inaugural da nova rota do Brilliance of the Seas, que desta vez atravessou o Mar Arábico, ligando o Golfo Pérsico à Índia. A Fugas embarcou no cruzeiro e depressa lhe percebeu os ritmos - leve no navio, alucinante em terra, onde houve lugar a lampejos do Oriente. Aliás, de vários orientes.

Estamos na proa a admirar o maior edifício do mundo que se vai afastando no horizonte como que encoberto por um leve véu ele e todo o horizonte recortado, quase cinematográfico, um equalizador em sinfonia arrítmica.

Estamos na proa, dizíamos, de um navio-cruzeiro, não é o maior ou o mais moderno do mundo, como as estrelas da família Royal Caribbean International (RCI), o Oasis e o irmão Allure. Este é o Brilliance of the Seas que sem ser, então, superlativo se prepara para inaugurar a nova rota da RCI Dubai-Índia - e o que vemos é portanto o Dubai, essa terra dos prodígios arrancados ao deserto.

Nós vamos com ele (nele) e para nós também é uma estreia, várias estreias, aliás: em cruzeiros, no Dubai, em Omã e Índia. Descoberta total, em ritmos distintos: leve, leve no navio, alucinante em terra.

Dia 1

O dia está a romper quando finalmente aterramos no Dubai. As primeiras impressões são as óbvias: saímos do interminável e opulento terminal do aeroporto para um bafo de calor que, por enquanto, lambe apenas (irá morder). De autocarro até ao hotel onde o pequeno-almoço é servido temos a primeira imagem da cidade - os arranha-céus de formas indisciplinadas que daqui não vemos como um verdadeiro skyline espreitam numa luz encoberta (é o tal véu finíssimo sobre a cidade - será sempre assim, é pó, é areia, dizem-nos): lá está o Burj Khalifa, o maior arranha-céus do mundo, e o Burj Al Arab, o hotel-maravilha que já foi o mais alto do mundo, vela enfunada no horizonte (de frente, vê-lo-emos, o pescoço de uma cobra-capelo); damos de cara com o "Creek", onde circulam e descansam os famosos dhows (os barcos típicos que continuam a viajar até à Índia), descobrimos um horizonte baixo, vemos palmeiras alinhadas, relvados com flores de cores impossíveis nos separadores.

Quando chegamos finalmente ao navio, constatamos que é uma "falsa partida": é preciso esperar para entrarmos nos quartos (o cruzeiro anterior terminou esta manhã) e mais tempo ainda pelas malas. Não se choram mágoas - o navio continua quase um desconhecido quando saímos novamente.

Sabíamo-lo em teoria, estamos prestes a sabê-lo na prática: o tempo de visitas em cruzeiros é curto e vai saber sempre a pouco. Ian, suíço de 40 anos, nove cruzeiros no currículo, chamalhe fast food travelling: "Andamos muito depressa, não temos ilusões de conhecer uma cidade ou um país. Temos um primeiro contacto e se gostarmos voltamos". "É um hotel de cinco estrelas que se move connosco", explica o companheiro, Andy, "vemos sítios bonitos sem termos a preocupação de ir de A a B".

Saímos, dizíamos, para a cidade. Dubai é igual a petrodólares (dirhams, na verdade) e isso é ostensivo. Este estado dos Emirados Árabes Unidos parece ter uma compulsão por fazer mais e, sobretudo, maior - ainda que o petróleo, fonte da sua fortuna recente, tenha um prazo de validade reduzido. Talvez por isso, as gruas que continuam a invadir a cidade estejam muitas vezes paradas - diz-se que 30 por cento das gruas mundiais estão no Dubai, nós atrevemo-nos a dizer que, então, 20 por cento das gruas mundiais estão inactivas.

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