Fugas - viagens

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Do Dubai até à Índia há mais do que um mar de distância

Dia 6

A Índia do lado de fora e nós à espera do passe governamental para sair. Cochim aguarda-nos, ali na ponta do sub-continente, nas margens do Índico: depois das paisagens ocres e brancas da Península Arábica, verdes saturados e uma paleta de cores. Saímos nos táxis típicos, pretos e amarelos, três rodas, três pessoas apertadas. Por mais Índia que tenhamos "visto", a realidade tem outro impacto: à porta do porto já começam as multidões indisciplinadas, as bancas na beira da estrada, a confusão de carros, táxis, bicicletas, motos. Repetir-se-á em Bombaim, em menor escala em Goa - acontecem mil coisas ao mesmo tempo. Somos, antes de mais, agarrados visualmente; depois vem a explosão dos sentidos.

Não sabemos bem quando entramos em Cochim porque o movimento e as casas (lojas) são em continuum - a vida vive-se na beira da rua, quando não na rua. Mas quando damos por nós estamos no Palácio Mattancherry, português de origem, impressionantes murais do século XVII agora desbotados, quase imperceptíveis, e logo depois é o Museu Indo-Português (o Palácio Episcopal faz parte do complexo), essencialmente religioso, que nos surge. E estamos na parte histórica de Cochim, o "Forte de Cochim", onde os portugueses se estabeleceram em 1500 (foram "substituídos" em 1663 pelos holandeses).

Paramos na Basílica de Santa Cruz (1505) e chegamos à Igreja de São Francisco com uma invasão de turistas (do navio). A primeira igreja europeia da Ásia é portuguesa de construção, com certeza, e ainda guarda a pedra tumular de Vasco da Gama, que aqui esteve enterrado 14 anos antes de ir para Lisboa.

O comércio em redor é abundante - e com tudo o que vamos encontrar nas outras paragens indianas: roupas, sacos, bijutarias, instrumentos musicais tradicionais, imagens de deuses hindus esculpidos, tudo numa harmonia improvável de cores - mas é o encantador de serpentes que nos detém. Algumas rupias e assistimos ao "espectáculo", a uma distância mais que segura - o som da flauta, as tampas dos cestos levantadas uma por uma, e o ondular sinuoso das cobras-capelo.

O tempo urge quando chegamos às redes chinesas, ao pôr do sol pelo efeito visual. Assistimos, de longe (paga-se), ao ritual de içá-las com o embalo de cânticos e ainda percorremos o bazar ao ar livre que se desenvolve à beira-mar - o crocitar dos corvos é constante.

Voltamos ao barco em nova alucinação de trânsito.

Dia 8

Chegamos ao estado mais português da Índia manhã cedo e sem tempo a perder: táxi negociado no porto, itinerário estabelecido e pés a um caminho onde Portugal está omnipresente. Desembarcamos em Vasco (já foi da Gama) e rapidamente entramos em velocidade de cruzeiro de povoação em povoação, por entre nomes "familiares": a Pensão Rebelo, a Pereira Wines e a Domingos Furniture.

Pangim (capital do estado desde 1843) chega sem se anunciar. Primeiro o Paço Patriarcal, depois a Igreja da Imaculada Conceição, alvíssima no topo de uma escadaria dupla, e ainda o Instituto Menezes Bragança, onde obras nos impedem de visitar a colecção de livros raros - ficamos pela entrada de azulejos que retratam episódios de Os Lusíadas.

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