Fugas - viagens

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Do Dubai até à Índia há mais do que um mar de distância

Na Velha Pangim encontramos Portugal "vivo" no Bairro São Tomé e nas casas que se debruçam sobre o Ribeiro de Ourém, coloridas com frisos brancos - e nas Fontainhas falamos português com Jovito Lopes, 62 anos, à porta de sua casa na Rua de Natal. É jornalista de O Heraldo, o mais antigo jornal português sobrevivente, mas publicado em inglês.

Perto da Capela de São Sebastião, uma das poucas casas hindus do bairro está decorada com colares de flores (como temos no nosso táxi): é 4 de Abril, o Ano Novo hindu - Gudi Padwa, conta Branca Miranda. Por isso a praia de Calangute, a alguns quilómetros, está cheia de famílias e o Forte de Aguada (construído em 1612) tem um engarrafamento de autocarros e táxis - começa a nossa odisseia fotográfica, indianos a pedirem-nos para tirar fotografias com eles.

O tempo urge para nós, mas a Velha Goa segue como imutável vislumbre do passado. Já teve 30 mil habitantes; agora é quase uma cidade-museu - e Património Mundial da UNESCO. Abandonada no século XIX, é um repositório de igrejas (diz-se que tem mais igrejas por quilómetro quadrado do que Roma) de fachadas maneiristas e interiores resplandecentes de talha dourada típica do barroco português. A mais incontornável é a Basílica do Bom Jesus, pedra castanha avermelhada para abrigar o corpo relicário de São Francisco Xavier. Do outro lado da grande avenida que a ladeia (com a primeira passadeira com que nos cruzamos na Índia), a Igreja de São Francisco e o Museu Arqueológico impávidos na sua alvura debaixo do sol tórrido, e um pouco mais abaixo, a Sé Catedral ergue-se algo desleixada mas altiva. O Arco dos Vice-Reis, quase negro, leva-nos até à beira-rio ladeada de palmeirais, porém impressionante mesmo são as ruínas de Santo Agostinho, uma torre rasgada ainda de pé (46 metros de altura) e restos de paredes grossas da que foi a maior igreja da Índia (construída em 1602).

Já desistimos de experimentar as bebincas, doce tradicional goês, e os ladoos encomendados também não vão connosco quando o navio se arrasta para o mar, entre colinas salpicadas de casas verdes, azuis, amarelas, brancas sob telha vermelha gasta pelo tempo.

Dias 9 e 10

Bombaim marca o final do périplo indiano. Julgávamos que sabíamos ao que vínhamos e confirma-se. Aqui cabe (quase) toda a Índia, imaginamos: frenética e apática, suja e colorida, monumental e miserável, perfumada e pestilenta.

Somos recebidos por uma vaga de calor que rapidamente se nos cola transportada por uma cacofonia contínua de vozes, música, e buzinas (ainda as ouvimos), literalmente por tudo e por nada. É a banda sonora apropriada para o caos das ruas (e milhares de táxis) - atravessá-las é desporto radical, caminhar exercício de resistência: às multidões compactas, ao calor e ao assédio dos vendedores.

A zona Sul desta cidade conquistada a terrenos pantanosos é o centro turístico - é a Bombaim mais vitoriana, testemunho do Raj britânico em pedra amarelada. O mais emblemático é a Porta da Índia, arco triunfal erguido à beira-mar, apinhado de turistas e, sobretudo, locais, e de onde partem os barcos para visitas turísticas e não só - ao lado erguese o Hotel Taj Mahal, inconfundível opulência em estilo mourisco. Perto, a Colaba Causeway é um imenso bazar a que se sobrevive com dificuldade - e por esta altura já não sabemos quantas mãos se abriram a pedir, quantas raparigas nos estenderam pulseiras de flores em troca de leite para os bebés que carregam.

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