Wellington Foutain (a nossa encruzilhada constante em Bombaim) está rodeada de edifícios grandiosos. A National Gallery Of Modern Art debruça-se sobre a rotunda e já se vê o Museu Príncipe de Gales, colosso em típico estilo indo-sarraceno. Mas o expoente desta opulência arquitectónica é a Estação Vitória, capricho neogótico mesclado com elementos indianos, cujo terminal recebe mil comboios e dois milhões de passageiros por dia (das ratazanas não há contabilidade).
Para Norte, em busca do Crawford Market, que vem em todos os guias mas tem um lado para além do pitoresco (os "matadouros" deixaram-nos o estômago revolvido e o nariz revoltado), percebemos a linha divisória (uma das muitas) na cidade - os edifícios já não estão decadentes, estão arruinados como numa zona de guerra. A gigantesca "lavandaria" ao ar livre Mdhlaxmi Dhobi Gaht já um local semiturístico com direito a vendedores e "guias": um bairro de lata à indiana dentro de outro bairro de lata - barbeiro na rua, templos hindus improvisados, famílias a pedir, crianças à cabeça - com tanques gigantescos a comporem puzzles, estendais que são pinturas abstractas e trabalhadores miseráveis.
Damos um salto à "praia" na Marine Drive para encontrar outra cidade (os arranha-céus estão no outro extremo), feita de prédios Art Déco arranjados a circundar a baía e vista para Malabar Hill, uma das zonas habitacionais mais caras da Ásia, e entramos no "campo dos sonhos" que é Oval Maidan, enorme parque nas redondezas da universidade, onde centenas de rapazes jogam críquete e ambicionam ser heróis nacionais. E quando menos esperamos invadimos "casas" de família, gente de olhar sujo que se ilumina de sorrisos tristes quando lhes falamos e que tem num pedaço de rua o seu porto de abrigo.
Fomos do oito ao oitenta em Bombaim, uma cidade que nos atrai e afasta em doses (quase) iguais. Pouco mais de 24 horas e partimos exaustos - não só fisicamente. Bombaim é a Índia, é o mundo, no seu esplendor e miséria.
Dias 11 e 12
O regresso ao Dubai faz-se sem sobressaltos, com a rotina normal só alterada pelas conferências sobre o desembarque. Chegamos manhã cedo. O Dubai continua envolto em névoa.
A Fugas viajou a convite da Royal Caribbean International
A "família" portuguesa
Há quem tenha inventado um desafio, partido à aventura, respondido a um chamamento, seguido uma carreira, improvisado outro caminho. Cruzam-se agora no Brilliance: cinco portugueses por detrás dos uniformes impecáveis. São as relações públicas do navio, embora tenham um nome mais pomposo - "embaixadoras internacionais" e na verdade o seu trabalho inclui a elaboração do Compass e informação sobre as escalas, a tradução. Ana Paula Noronha, 51 anos, e Elizabete Nunes, 42, a primeira chegou em Janeiro e tem no alemão a sua maisvalia, a segunda está a caminho do Adventure e o russo é que a distingue.
No Minstrel, a sala de jantar do navio, dois chefes de sala lusos, Pedro Gregório, 33 anos, e Ruben Marins, 26 anos. Chegaram aos cruzeiros com 20 anos e foram subindo na hierarquia - agora, só respondem ao maître e controlam secções do restaurante. No restaurante Portofino, é João Barriga (na foto), 30 anos, quem recebe os comensais: é o host, "o braço direito do chefe", diz-nos. E o marido de Ana Paula - uma história de amor que se forjou em alto mar, noutro barco, e aí se vive.