Fugas - viagens

  • Pedro Cunha
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Descobrir a pé uma costa de segredos

Balthasar tem sido um dos que se tem envolvido a fundo no projecto da Rota Vicentina - com Marta Cabral passou os últimos meses a promovê-lo em feiras de turismo noutros países. É o dono de um dos empreendimentos associados à Casas Brancas, situado a quatro quilómetros  da praia dos Aivados, entre Porto Covo e Milfontes. A sua história é comum à de muitos dos que têm trabalho neste projecto. Conheciam o Alentejo das férias, mas viviam longe (tantas vezes fora do país) até que, um dia, quiseram mudar de vida. E rumaram a Sul.

A propriedade de Balthz, como todos o tratam, é constituída por montado, essencialmente, e foi comprada quando veio para Portugal produzir avestruzes. O negócio durou alguns anos, até que, com a gripe das aves, morreu. Seguiu-se um restaurante, no mesmo sítio - mas os clientes costumavam pedir-lhe se não podiam ficar para dormir. Em 2007, transformou o sítio e abriu um turismo rural. Chamou-lhe Três Marias, por causa do filme inspirado no livro de Isabel Allende. E por causa de duas coincidências: na história de Allende, a fazenda da família Trueba (apelido parecido ao de Balthasar) chama-se Três Marias; e parte do filme foi filmada na região.

"Olha um falcão peregrino!", grita um caminhante. Muitas conversas nestes dias de caminhada serão interrompidas com exclamações semelhantes. "E aquilo? Não é um falcão-peneireiro?"

A Casas Brancas diz-se apostada em envolver a comunidade no lançamento da Rota Vicentina - processo que ainda está a decorrer, como explica José Granja, 30 anos, um jovem formado em Gestão de Empresas que também mudou de vida há três anos, quando largou Lisboa para trabalhar na associação. O Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, os turismos do Alentejo e Algarve, a Polis Litoral Sudoeste e a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal são parceiros estratégicos.

Para além disso, tem havido reuniões com empresários locais, conta. E a associação quer no próximo ano ir às escolas falar da Rota - e de turismo de natureza, de desenvolvimento sustentável, de conservação do ambiente, porque está tudo ligado, sublinha José.

Há ainda que reforçar a capacidade de receber os caminhantes. Para já, há 34 turismos rurais (que fazem parte da Casas Brancas) que estão articulados - o que significa que quem quer fazer a Rota Vicentina pode seleccionar o percurso, contactar os alojamentos da rede que ficam próximo das etapas escolhidas e estes garantem que, no início de cada manhã de caminhada, as bagagens seguem de carro para o alojamento seguinte; ao final do dia, quando o viajante chega ao destino, lá estão as suas malas.

Mas existem outras opções, fora da associação - incluindo parques de campismo e pensões - que, aos poucos, poderão organizar-se de forma a garantir que a rota é passível de ser feita nos mesmo termos para quem os escolhe sem que o transporte das bagagens de uma etapa para outra sejam uma preocupação.

Ideias não faltam. A Casas Brancas também planeia vir a criar uma bolsa de voluntários que vão informando sobre o estado do percurso e dos marcos e pretende arranjar um patrocínio de uma grande marca que permita ter um orçamento para a manutenção. Um mapa detalhado do percurso à escala de 1:50.000 e um guia de campo deverão estar prontos nos próximos meses, mas no site da Rota Vicentina já se pode descarregar todo o percurso para GPS (sim, há quem saque do smartphone em plena serra para descobrir onde está).

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