"Depois de uma temporada lá, regressámos a Lisboa, entrámos no apartamento e o meu filho [então com dois anos] fez o mesmo que costumava fazer na Austrália: foi a correr para a varanda. Mas em vez de se deparar com árvores e catatuas... tinha prédios. E começou a chorar... Foi nesse momento que decidi: ‘Não fico aqui.' Vou para a Austrália montar o projecto dos meus sonhos", conta Alfredo.
O projecto dos sonhos dele e da mulher era construir um turismo rural à sua imagem. E começaram a preparar tudo para fazê-lo no outro lado do mundo. Empacotaram mobílias, candeeiros, roupa, até encher o contentor que havia de os acompanhar. Antes de partirem, contudo, cruzaram-se por acaso com a Herdade da Matinha, um vale no Cercal do Alentejo. E apaixonaram-se pelo sítio.
As mobílias com destino à Austrália acabaram por ser desempacotadas no Cercal. Muitos eucaliptos foram cortados, mais de 45 mil árvores foram plantadas só nos primeiros anos. Nas cavalariças nasceram quartos. Num pavilhão azul-bebé, onde Alfredo pintou na parede a letra de uma canção de Caetano Veloso - "Céu azul que vem até onde os pés /Tocam na terra/E a terra inspira e exala seus azuis" - nasceram mais quartos.
Hoje, Alfredo e Mónica continuam a viver na propriedade. É aqui que ele tem o atelier. E é na cozinha fantástica, aberta para a sala de jantar, que cozinha (os hóspedes podem acompanhar os trabalhos e, se for combinado, até participar na confecção). Muito do que aqui se come (os jantares gourmet são marca da casa) é produzido na herdade onde há cavalos à solta e uma piscina junto a um laranjal.
Herdade da Matinha
7555-231 Cercal do Alentejo
Tel.: 939 095 685/ 932 944 285
www.herdadedamatinha.com
Preços: Entre 89€ a 169€ por quarto duplo, com pequeno-almoço incluído; entre 119€ a 279€ por suite, com pequeno-almoço incluído
Naturarte
A casa de Champanhe
Há o quarto da avó, o quarto da irmã, o quarto do tio... Ao todo são cinco quartos e duas casas na Herdade da Corte Pinheiro, a um quilómetro de São Luís, projectados pelo arquitecto Rui Graça, que gere este turismo rural (bem como o Naturarte Rio, um outro projecto de turismo rural, a poucos minutos de carro, que tem uma magnífica piscina infinita enquadrada pelo rio Mira). Nos 250 hectares de terreno, junto à serra do Cercal, há sobreiros e pomares, piscina, court de ténis, ioga e centro hípico (podem reservar-se aulas para os mais pequenos e organizam-se passeios mesmo para quem não é um pro).
Há menus especiais - Pamela, a mulher de Rui, é a chef de serviço. E os jantares podem ser servidos ao ar livre, junto à piscina. Mas uma das imagens mais fortes que fica deste elegante turismo rural é o picadeiro e a forma como os donos falam dos cavalos (várias crianças das redondezas vêm aqui ter aulas) que, diz Rui, podem ser uma lição de amor e de dedicação.
No dia em que a Fugas visita o espaço, há um potro recém-nascido que centra atenções, mas o cavalo mais importante do picadeiro chama-se Champanhe - um puro lusitano, cor de champanhe, claro está, por quem Pamela se apaixonou antes mesmo de ter conhecido Rui. Foi na feira da Golegã: ela bateu com os olhos no cavalo, fixaram-se longamente, não o comprou logo, mas acabou por contactar o dono dias depois, conta Rui. Quando este lhe passou os documentos do lusitano para a mão Pamela percebeu que Champanhe tinha nascido no mesmo dia que ela, exactamente. Hoje, Champanhe vive ao lado de casa dos donos. Faz parte da família - mas tem alguns ciúmes de Rui.