Fugas - voltaaportugalem80dias

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Fundão, volta e meia

“Passei muito tempo sem nada disso”, brinca. Para sentir os cheiros locais opta sempre pelo hotéis mais modestos, pelos comboios, pelos cafés e tascas. Onde quer que estejam as pessoas reais. Javier Reverte mantém o mesmo método de trabalho. No seu caso, a viagem “começa sempre na livraria, nos livros”. “Onde também acaba. Leio muito sobre o destino que escolho.” Aos 70 anos mantém um sorriso e uma curiosidade juvenis. Pergunta muito. Tudo. “E o Fundão? Como é? Quantas pessoas tem? Tem muita agricultura? E vocês escrevem sobre o quê? Viagens?”... O escritor de viagens é também aquele que ouve. E Reverte ouve muito. “E um livro sobre Portugal?” – atirei. “Já pensei nisso”, disse, “mas é demasiado perto”. Prefere destinos longínquos. Sobre Espanha seria impossível escrever. Demasiado próximo. Neste momento está a escrever sobre uma viagem que fez a Nova Iorque, essa sim, já com a distância devida. Já em Salamanca, com o asfalto a correr, avisou. “Vou dormir uma meia horita, ok?”. Claro que sim, Javier, descansa que a viagem ainda é longa.

Serra de avistamentos

De regresso ao Fundão, e “entregue” o escritor à organização, apontámos o C4 Cactus para a Mina da Panasqueira, uma das maiores minas de volfrâmio da Europa, já na serra do Açor. Mas a Gardunha gritava mais alto. Há algo de misterioso nesta serra, alimentado há muito pela população. A primeira referência do Jornal do Fundão sobre um avistamento data de 2 de Novembro de 1952. “Muitas pessoas observaram um caso invulgar que levou algumas a suspeitarem tratar-se da passagem de um disco voador.” E continuava. “Um misterioso objecto voando a enorme velocidade e sem ruído sulcou o nosso céu e deixou um sinal de fumo em forma de U que se manteve alguns minutos.” O jornal revelava que o episódio dividiu os locais. Muitos consideravam tratar-se apenas de um “avião”, outros não tinham dúvidas: era um objecto extra-terrestre!

Alexandre Leonardo, responsável do departamento de Cultura da Câmara Municipal do Fundão, ainda não era nascido na época, mas cresceu a ouvir relatos idênticos. “Sempre fui muito céptico”, disse. Houve, porém, um dia em que a sua perspectiva mudou um pouco. Em 2009, juntamente com quatro amigos, subiu à serra da Gardunha para recolher umas imagens para realizar uma curta-metragem chamada Má Hora – baseada numa lenda beirã. O que viu ainda hoje não sabe explicar. “Sabíamos que, naquele dia, ia passar no céu uma estação espacial, da esquerda para a direita.” Só que o sentido da esfera de luz que viram ia da direita para a esquerda, o que despertou logo a atenção de todos.

O pior foi depois. O objecto desceu até ao topo da Gardunha, no penhasco da Senhora da Penha. “O mais estranho era a luz não se expandir quando baixava ao solo. Estávamos a 50 ou a 100 metros.” A dada altura, a esfera de luz aumenta de intensidade, por duas vezes, como se estivesse a convidar um segundo objecto luminoso que se eleva a partir das rochas. Posicionaram-se, intensificaram outras duas vezes a luz, aumentaram a velocidade e desapareceram, deixando Alexandre Leonardo e os seus amigos a olhar, alternadamente, para o céu e para as câmaras que não se lembraram de ligar. “Nenhum de nós reagiu. Em 30 anos de idas à  serra foi a única vez que vi algo assim”, recordou. Depois desta experiência leu muito sobre o assunto. Continua a manter uma prudente distância sobre alguns relatos mais hiperbolizados sobre o assunto, mas inteirou-se do facto de a própria NASA ter já investigado as misteriosas esferas de luz, embora ainda “pouco ou nada” se saiba sobre a sua natureza.

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