Fugas - restaurantes e bares

Adriano Miranda

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Em busca da melhor sardinha

A quarta visita foi ao restaurante-churrasqueira O Cofre, ao lado da Casa dos Bicos (Rua dos Bacalhoeiros, 2 C, tel. 218868935), com grelha à entrada e muito peixe exposto. Pergunto pelas sardinhas e dizem-me que estão boas e são portuguesas. "Pode pedir à confiança". De facto, naquela agradável esplanada, marcharam bem, talvez mais por comparação com as experiências anteriores, mas a verdade é que também me pareceram congeladas, quer porque a consistência estava longe de ser a ideal quer porque a pele saía como se fosse papel. Na salada, apenas umas farripas de pimento, mas o conjunto estava bom e bem temperado. Pena incluir umas malfadadas ripas de cenoura, maldição das saladas da nossa restauração popular. No pão, uma bola de mistura razoável, um miserável papo-seco oco e uma grossa fatia de broa de milho, que, apesar de ser de qualidade, confirmou a minha predilecção pelo pão de trigo. O cofre que dá nome ao restaurante existe na realidade e é bem bonito. Actualmente, serve de escritório, mas antes cumpria a sua função numa "casa de azeites" que ali funcionou muitos anos.

Antes de passar à última e melhor indicação, sinto obrigação de referir a decepcionante visita que fiz à Marítima de Xabregas, que já me tinha sido gabada por gente de confiança. Liguei durante vários dias a perguntar por sardinhas e, sempre com boa educação e paciência, foram-me informando que, por ora, "só petingas". Mesmo assim, decidi ir lá almoçar num domingo e fiquei satisfeito por ver que os seus mais de 140 lugares, espalhados por três salas, estavam preenchidos por gente de ar conhecedor e local. O problema era que mal se entrava nesta casa cujo nome cheira a sardinhas e bom peixe, levava-se com um cheiro que eu diria "controverso", para não dizer pior, de um bacalhau assado na brasa que é a especialidade. Como ia acompanhado, além das petingas de fraca qualidade, lá provei o dito bacalhau e só posso dizer que o sabor era tão controverso quanto o cheiro, apesar de estar a ser servido em muitas mesas de habitués da casa. Um mistério.

Vamos agora até Alfama, a um restaurante de que muito gosto e que não me canso de recomendar, apesar de, talvez devido à forte afluência de turistas, praticar preços acima do que se espera em locais deste género. O Lautasco (Beco do Azinhal, 7, tel. 218860173) fica num local de curto e fácil acesso pedonal a partir do Largo do Chafariz de Dentro (em frente ao Museu do Fado) e tem um dos mais encantadores pátios da cidade, à sombra de uma frondosa árvore, sem ruído de automóveis, protegido do vento. Tiram sabiamente partido da sua tipicidade, decorando o local com fitas, bandeirolas, grinaldas e manjericos de papel, mesmo antes da época dos Santos Populares. Ali estava até há uns 30 anos o Cantinho do António, do fadista António dos Santos, que recebia clientes e amigos como Alfredo Marceneiro, acompanhando-se só à viola, interpretando temas como Gaivotas em Terra e Partir é Morrer um Pouco (estão no YouTube, para quem quiser ouvir), que tiveram algum êxito na altura. Os seus instrumentos estão agora expostos na sala principal do restaurante.

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