Mas voltemos ao acolhedor pátio onde reservei mesa. Quando perguntei ao telefone, avisaram-me logo gravemente que as sardinhas eram das congeladas. Quando me sentei à mesa para almoçar, o responsável pela casa quase me implorou para não escolher as sardinhas...Como ia acompanhado, pedi também as pataniscas, que sabia esplêndidas, de formato achatado, bem fritas e leves, e assim me consolei um pouco provando-as como entrada. Mas havia muito mais para me consolar, como um cesto de belo pão de Mafra à fatia e uma soberba travessa de salada, com resplandecentes tiras de pimentos verdes em cima. As batatas é que mais uma vez deixavam a desejar, mas com tanto e tão bom pão, mal lhes toquei. Também as sobremesas aqui não são famosas e ainda me tentei por uma torta de laranja, doce tipicamente alfacinha de que tanto gosto e que deveria ser mais visto nos restaurantes da cidade, mas rapidamente me arrependi.
As sobremesas são muito importantes quando se vai às sardinhas, porque o seu sabor é inigualável, mas dura eternidades na boca, acabando por se tornar enjoativo. Para mim, a sobremesa ideal é também sazonal: cerejas, com a sua acidez perfeita a cortar a gordura do peixe.
A conclusão desta busca é óbvia. Quem gosta de sardinhas tem que saber esperar pela altura certa, porque, sejam congeladas ou de outros mares, não se comparam às que nós pescamos na nossa costa. No Santo António deste ano é pouco provável que elas estejam num bom momento de forma, mas os portuenses deverão ter mais sorte. Aliás, já diz o provérbio que "no São João, a sardinha pinga no pão". Num mundo perfeito, os restaurantes portugueses nem as deveriam apresentar nas suas listas antes de Junho, mas sabemos que a fama da sardinha portuguesa leva a que muitos turistas façam questão de as provar em qualquer estação. E, sem bons termos de comparação, chegam a ficar satisfeitos com a experiência. Como não é esse o nosso caso, se sentir uma saudade irresistível de sardinhas e, nos seus restaurantes predilectos, lhe disserem que ainda não as há frescas, gordas e portuguesas, o melhor é ficar em casa e abrir uma lata das óptimas conservas nacionais.
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