Fugas - restaurantes e bares

  • Luis Efigénio/Nfactos
  • Os irmãos Roca, que gerem El Celler
    Os irmãos Roca, que gerem El Celler DR
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O teatro culinário dos irmãos Roca no seu Celler

O espaço de recepção fica no início do amplo corredor que faz a ligação à estrutura da moradia, com a sala de refeições à direita e a garrafeira ao fundo. Disposta em duas alas, a sala forma com o corredor um triângulo no meio do qual fica um espaço natural arborizado. Paredes de vidro a deixar entrar a luz, ambiente informal e discreto e o mobiliário fazendo com que cada mesa (todas redondas) tenha um espaço próprio que quase a isola das restantes Reserva para quatro duas semanas antes, sendo o chefe Rui Paula um dos comensais, que assim se despedia de uma estadia de duas semanas (ver abaixo), sendo que entre a clientela de várias nacionalidades havia uma outra mesa com oito portugueses.

Passemos então ao espectáculo gastronómico que, no caso, se desenvolveu em nada menos que 24 actos. Tudo com uma cadência, eficácia e simplicidade imaculadas e onde o lado cénico e emocional está sempre presente.

Tudo começa com a retirada dos três calhaus rolados que ocupam o centro da mesa, simbolizando a união e complementaridade entre os três irmãos Roca. Simbolismo é o que não falta também na primeira coisa que vem à mesa: uma oliveira. Sim, uma árvore mas em estilo bonsai, no meio de cujas folhas se "colhem" umas azeitonas.

Capa crocante caramelizada que se desfaz rapidamente na boca e recheio de anchova. Delicioso e surpreendente, representando os sabores mediterrânicos, a terra e o mar de onde emanam os produtos culinários. Genial também o bombom de espumante rosé que se segue. Bolinha cor-de-rosa (manteiga de cacau) com recheio de sumo de pêssego, cujos sabores explodem literalmente na boca. A cada prato cada surpresa, numa sucessão de emoções que antes não seria fácil de imaginar.

Destaque, no campo das entradas, para a ostra na pedra com vapor de maçã. Umas pedrinhas quentes no fundo de uma espécie de terrina, com uma grelha a meio com a ostra. Derramado um líquido sobre as pedras, liberta-se o calor que provoca uma levíssima cozedura da ostra sem contacto com a fonte de calor. Acompanha um caldo de ostra e uma gota caramelizada de maçã. Soberbo! A finesse repete-se com a gamba na brasa, o parmentier de lavagante, o linguado em azeite (que sabores!) ou o salmonete que é recheado com o próprio fígado.

No sector das carnes, um bife tártaro com gelado de mostarda que é das coisas mais bem concebidas que se possa imaginar, garganta de cordeiro com batata-doce e tangerina, ou a lebre que, imagine-se, acompanha um destilado de terra (espuma branca com o sabor imaculado da terra), a mostrar que a este nível culinário os limites são mesmo os da imaginação.

Entre as sobremesas havia até uma "Viagem a Havana", que incluía o charuto (de chocolate) com a ponta queimada e as suas cinzas (tudo comestível, claro) e respectivo "Mojito". Mas nada foi capaz de despertar tanto as emoções como o leite de ovelha em diferentes texturas. Doce de leite e sorvete da goiaba, tudo envolto num véu de algodão doce de leite.

Servido numa ampla terrina, faz com que para se recolher todos os componentes seja necessário rodar a colher pelos bordos da peça de louça especialmente concebida. O movimento tem o efeito de reproduzir o som dos chocalhos como se, de repente, conduzíssemos o rebanho pela montanha. Este é o exemplo perfeito da genialidade de Jordi Roca, o mais novo dos irmãos, que é o mestre pasteleiro.

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