Esquimó
E "pão quente", já provaram?
Chegamos numa hora má, avisa D. Ana: João Sá começou agora mesmo a fazer gelados. Porém, o que seria hora má provou ser a melhor hora - mais não seja porque acabamos a comer gelado (baunilha) acabado de sair da máquina, cremoso até não poder mais, frio, não gelado. "É o equivalente ao pão quente", diz João Sá, o primeiro e único gelateiro da Esquimó, a gelataria que o pai e os tios abriram quando voltaram de Moçambique, nos idos de 1975. "É o meu mundo." É-o desde os 16 anos; agora tem 54. "Sempre fui gelateiro, mas tive tempo para tudo, estudar, casar, ter filhos...".
É um clássico de Espinho, o Esquimó, há 38 anos a mirar a praia a dois passos do casino. É café e gelataria que se unem na esplanada coberta. A gelataria, tons claros a contrastar com a madeira do lado, concentra a atenção nos expositores: chocolate picante, bubble gum, iogurte, After Eight, ananás, limão, coco, noz... - maracujá, que amacia a boca como um shot do fruto. "É talvez o mais trabalhoso de fazer", explica João Sá, "pelo trabalho por detrás: lavar, abrir, retirar a polpa e ultracongelar".
A "arte", João Sá aprendeu-a com um gelateiro italiano, de 80 anos. "Deu-me um curso de 15 dias", conta. "Ele não queria ensinar, mas como eu era miúdo acabou por dizer mais do que queria", recorda, sorrindo. "Eu era a mascote." Depois, esteve anos a fazer cursos, a adaptar a tecnologia. "Somos cem por cento artesanais, só usamos produtos naturais e aqui estamos até hoje."
E hoje o menu do Esquimó conta com mais de 80 sabores. "Mas não posso ter todos", salvaguarda. Vão variando, portanto, os gelados que são de passeio (copos e cones) e de taça (que podem ser preparadas em copo também), mas também se vendem ao litro. O que não varia é o cheiro que envolve quem entra: o cheiro adocicado dos gofres (basicamente, waffles belgas), uma novidade que introduziu há 20 anos e que agora é uma das imagens de marca da casa. Sempre a acompanhar os gelados, que são produzidos diariamente, à medida das necessidades. Nós despedimo-nos quando está a sair o de noz; nos baldes de metal, a base de pistachio e chocolate aguardam a sua vez de se transformarem em gelados que têm o seu segredo no "equilíbrio entre a parte seca e a molhada, os líquidos e os sólidos". "É aí que se tornam cremosos, sem ponta de gelo." A.M.P.
Esquimó
Rua nº 2, 57 (Esplanada 25 de Abril)
Espinho
Tel.: 227 340 974
Horário: De domingo a quinta-feira das 9h às 24h; sexta e sábado das 9h à 01h
Preços: Desde 1,70€, uma bola em copo
Emanha
Kefir e algas em testes
Há uma surpresa a chegar à Emanha. "Estamos em fases de testes", dizem-nos - uma rotina habitual na gelataria da Figueira da Foz (que já chegou a Lisboa), que "todos os anos aposta em novos sabores". É assim desde 1980, quando a primeira Emanha abriu na marginal da Figueira da Foz, junto a Buarcos, como negócio de família criado por força das circunstâncias: o abandono de Angola por alturas da independência (o nome é uma localidade no planalto do Huambo e significa "pedra grande"). Sem nenhuma experiência anterior, a fama desta gelataria artesanal fez-se à custa da aposta clara na qualidade e na aprendizagem constante - de tal forma a aprendizagem parece estar no ADN da Emanha que por estes dias até está a trabalhar com o Instituto Politécnico de Leiria - Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche num estudo sobre os gelados de kefir e de algas, "da nossa costa".
