Fugas - restaurantes e bares

Portugal no guia Michelin 2014: Duas entradas para uma saída infeliz

Por Fortunato da Câmara

O algarvio São Gabriel perde a estrela ao fim de 19 anos. Mas o alentejano L'And e o lisboeta Eleven conquistam a distinção. Resultado: Portugal volta a ter 12 restaurantes com estrelas Michelin.

[A reacção dos chefs portugueses: Estrelas Michelin apanham de surpresa quem as ganha, quem as perde e quem as recupera]


O dia começou frio e chuvoso em Bilbau, mas a noite está a revelar-se pouco mais do que morna, atendendo às novidades que a edição 2014 do Guia Michelin trouxe para Portugal. As classificações acabam de ser anunciadas numa cerimónia que está a decorrer no Museu Guggenheim e o que se pode desde já concluir é que do "céu gastronómico" criado pela marca de pneus em 1926 caiu uma estrela portuguesa. Mas há também duas novas a brilhar na parca constelação lusa.

Quase a completar 20 anos com a classificação de uma estrela no influente Guia Michelin, o São Gabriel deixa de figurar na edição de 2014. As mudanças de proprietário e de chef no decurso deste ano poderão ter ditado este desfecho, uma vez que os inspectores apreciam muita a estabilidade dos restaurantes. Leonel Pereira que chegou ao restaurante em Março e que tem desenvolvido nos últimos anos um trabalho de qualidade reconhecido pelos meios gastronómico, acaba por sair penalizado devido a estas circunstâncias.

Nos antípodas deste cenário está Miguel Laffan, o chef que há dois anos e meio dirige a cozinha do hotel L'And Vineyards, inaugurado em Abril de 2011 nos arredores de Montemor-o-Novo. Com motivos para sorrir de novo está também a equipa do Eleven que, ao fim de três anos fora da lista, faz regressar a Lisboa a estrela perdida em 2010, elevando para três o número de restaurantes da capital que partilham a mesma classificação. As restantes distinções mantêm-se. Apesar da presença na cerimónia dos cozinheiros Dieter Koschina do Vila Joya e de Hans Neuner do Ocean, nenhum deles viu os restaurantes que chefiam no Algarve alcançar as muito cobiçadas três estrelas no poderoso guia vermelho.

O único restaurante novo que os inspectores consideraram "valer a viagem" (segundo a expressão que o próprio guia utiliza para descrever a classificação de três estrelas) nesta edição ibérica para 2014 foi o madrileno Diverxo de David Muñoz, que se junta assim ao G-7 da gastronomia espanhola formado pelos estabelecimentos distinguidos com três estrelas. São portanto oito os restaurantes que têm agora a distinção máxima. Com duas estrelas figuram 18 locais, enquanto o número de restaurantes com uma estrela ascende aos 147 - só nesta categoria foram 20 as novas entradas. Ao todo, são 172 moradas que a publicação gaulesa recomenda em Espanha na edição de 2014; já Portugal fica-se pela dúzia de estabelecimentos que, segundo os inspectores, merecem ser visitados por gastrónomos "encartados".

A imprensa espanhola vive com grande ansiedade a espera pelo anúncio das estrelas, e este ano não foi diferente. Televisões e rádios em directo, fizeram a antevisão do que poderia trazer de novo a edição Espanha & Portugal para 2014. A enorme expectativa gerada em torno de cada apresentação também se deve aos responsáveis pela publicação que todos os anos organizam a cerimónia numa cidade diferente, com grande empenho para que nenhum pormenor falhe. Os chefes “estrelados” da região onde se realiza o evento são convidados a preparar o jantar da cerimónia. O convite é recebido com deferência pelos cozinheiros e suas equipas, e ao mesmo tempo alimenta um pouco mais o star system em redor dos nomes sonantes.

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