Se há coisa que o turismo não mudou no Porto, uma delas foi a restauração. Não que não tenha havido uma enorme evolução na última década, podendo até falar-se num ambiente de revolução quando olhamos para a quantidade e variedade de novos espaços e conceitos que quase diariamente vão surgindo, sobretudo no eixo Baixa-Ribeira-Foz. Tascas modernas, bares, restaurantes com assinatura ou de tendência internacional que procuram corresponder a uma procura cada vez mais jovem e menos comprometida, numa interessante e prometedora dinâmica de sedução ao turista mas à qual resta ainda tempo para a definitiva consistência e consolidação. É que, como já dizia a canção (do Fausto): atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir.
Diferente e mais antiga é, no entanto, a tendência para o aparecimento de restaurantes de topo. Espaços mais requintados e com evidentes preocupações gastronómicas, que poderão enquadrar-se num movimento anterior de afirmação da cidade e que remete para a recuperação da zona da Ribeira e da marginal do Douro a par de ambiciosos projectos como o metro e a recuperação urbana no âmbito da Porto 2001 (Capital Europeia da Cultura), Serralves e casa da Música incluídos.
Foi neste contexto de afirmação externa que surgiram restaurantes como o Cafeína, Bull & Bear e Sessenta Setenta (este último fechou portas entretanto), a que se sucedem vários outros. Espaços que não estão ao alcance de todas as bolsas, mas que consolidam o potencial turístico do Porto e são a referência para qualquer tipo de visitante.
Em termos de cozinheiros, é justo que se diga que Miguel Castro e Silva (hoje praticamente “refugiado” em Lisboa) foi o precursor deste movimento de excelência.Chefs como Ricardo Costa, Rui Paula, Pedro Lemos, Jerónimo Ferreira (temporariamente no Rio de Janeiro), Hélio Loureiro, Francisco Meireles, Vítor Matos, António José Vieira, Luís Américo ou Marco Gomes personificam também essa mudança qualitativa e proporcionam hoje uma oferta do mais alto nível gastronómico.
Ou seja, foi também com eles que o Porto se afirmou no panorama turístico. Restaurantes como o The Yeatman (uma estrela Michelin), DOP/Rui Paula, Pedro Lemos, Cafeína, Shis (que o mar levou há dias mas que promete estar de volta rapidamente), Foz Velha, Astória ou Porto Novo são de visita obrigatória para quem procura patamares de exigência gastronómica.
E se à boa mesa se associarem fabulosas vistas sobre o Douro, as pontes e zonas históricas do Porto e Gaia, então é mesmo obrigatória a passagem pelo Vinum, nas Caves Graham’s. Com o prazer da paisagem sobre o Douro também o Barão de Fladgate, nas Caves Taylor’s, ou o Restaurante Chinês, que há quase meio século está instalado mesmo à entrada da ponte Luiz I. No capítulo étnico, as referências são o Góshò (Av. da Boavista, 1277) e o Ichiban (Av. Brasil, 454), ambos de inspiração japonesa.
A ideia deste texto passa, no entanto, por identificar restaurantes que representem a cidade na sua essência. Aqueles que não surgiram para a acompanhar este ou aquele movimento, uma ou outra tendência, mas antes para dar prazer e satisfação aos portuenses e àqueles que os visitam. Desde que o queiram fazer à moda do Porto, claro está!
São dez mas podiam ser várias dezenas, não significando a escolha ou a ordem qualquer hierarquização valorativa. Estão na parte mais central da cidade e, presume-se, mais acessíveis ao visitante que por aí deambule. São apenas alguns dos muitos restaurantes que não mudaram ou surgiram com a explosão do turismo na cidade.
Portucale
É um caso à parte, tanto no Porto como ao nível nacional. Foi dos primeiros a ser reconhecido com a estrela Michelin (1974) e assim se mantém, com todas as vantagens e inconvenientes. A mesma carta (fabulosa) e o mesmo ambiente de requinte e sofisticação, que correspondia ao luxo parisiense da época. Acresce que fica num dos pontos mais elevados do Porto e com vistas panorâmicas sobre toda a cidade.
Rua da Alegria, 598. Tel.: 225 370 717. Preço médio: 40€
Rogério do Redondo
Casa farta, ampla, serviço despachado e ambiente descontraído, mesmo que a clientela seja composta por formais gestores e executivos ou as típicas famílias burguesas. Guisados, assados e arrozes de grande substância e com produtos de origem seleccionada. Há bacalhaus substanciais e variedade de peixe fresco todos os dias, mas que ninguém pense em cozinhados frugais ou doses contidas. A carta de vinhos é a condizer.
Rua Joaquim António de Aguiar, 19. Tel.: 225 379 533. Preço médio: 20€
A Cozinha do Manel
Na mesma zona da cidade e na mesma linha do Rogério do Redondo, mas com uma cozinha mais centrada nos trabalhos de forno. O cabrito e a vitela são exemplares, mas há também as tripas, bacalhaus e o cozido à portuguesa (à quinta-feira). Cozinha ao mais puro estilo regional num espaço com ambiente e decoração a condizer. Entra-se pela zona do balcão, por onde se acede à sala de refeições.
Rua do Heroísmo, 215. Tel.: 225 363 388. Preço médio: 20€
Adega São Nicolau
Não mudou com o turismo mas foi literalmente tomado pelos turistas que em permanência esgotam o espaço já de si limitado. Pela cozinha saborosa e genuína, mas também pela localização num dos mais pitorescos recantos da Ribeira donde se avista o Douro. Foi recentemente remodelado com gosto e é de visita obrigatória. Haja paciência para aguardar mesa.
Rua de São Nicolau, 1. Tel.: 222 008 232. Preço médio: 18€
O Ernesto
No coração da Baixa e numa rua onde quase todos os espaços foram tomados pelo fervilhar de bares e nova restauração, o Ernesto mantém-se firme no seu estilo tradicional, que funciona há mais de setenta anos e sempre na mesma família. Espaço acolhedor e com alguma elegância, com duas salinhas sobrepostas e um pequeno terraço no quintal para os dias de Verão. Muito boa relação o entre o que se paga e aquilo que é servido.
Rua da Picaria, 85. Tel.: 222 002 600. Preço médio: 12€
Casa Aleixo
Nas imediações da estação ferroviária de Campanhã, é uma das referências da cidade pelos saborosos filetes de pescada ou de polvo acompanhados com arroz de forno do octópode. Há também a vitela do forno, que vem à mesa na assadeira de barro, as rabanadas e uma aletria com ovos que a ninguém deixa indiferente. Sobretudo a consistência de um serviço de décadas.
Rua da Estação, 216. Tel.: 225 370 462. Preço médio: 15€
O Buraco
Um dos mais populares e mais procurados restaurantes da Baixa, com comidas simples, sempre saborosas e variadas. A exiguidade do espaço, com duas salinhas ao nível da rua e uma cave, é compensada pela simpatia e eficiência do pessoal. Para uma refeição mais distendida é aconselhável ao jantar, com menos procura e horário alargado.
Rua do Bolhão, 95. Tel.: 222 006 717. Preço médio: 12€
Antunes
Com uma clientela ecléctica, é procurado por gente de todas a idades e estatutos. Um dos mais típicos e tradicionais da Baixa portuense, com vasta oferta ditada em função das disponibilidades do dia nos mercados. São reconhecidos os filetes de pescada com arroz malandro, as tripas, os rojões ou o arroz de pato, mas há muito que o ícone da casa é o pernil de porco assado em forno a lenha.
Rua do Bonjardim, 525. Tel.: 222 006 577. Preço médio: 15€
Adega Ribatejo
A antiga casa de pasto com ar de adega é hoje um espaço bem mais arrumado, desafogado e com decoração a condizer. Cozinha tradicional, com a habitual oferta de bacalhaus, assados, tripas e o arroz malandrinho que pode acompanhar vários pratos. Há também variedade de petiscos e uma acolhedora esplanada onde, em tempo apropriado, se almoça à sombra da ramada.
Rua Alexandre Herculano, 219. Tel.: 222 008 991. Preço médio: 14€
Pombeiro
Ganhou fama com vários prémios pelas suas tripas à moda do Porto, mas não se ficam pelo mais típico cozinhado portuense os méritos do restaurante. Há cozido à portuguesa, vitela assada, frango de cabidela e sempre uma variada oferta de pratos de cariz caseiro e de temporada. Assim se justifica o lema com que a casa de insinua: “Comer bem e caseiro é no Pombeiro”.
Rua Capitão Pombeiro, 218. Tel.: 225 097 446. Preço médio: 15€
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