As linhas de sabor de que tínhamos falado à tarde com Leonardo estavam claramente presentes: as manteigas a cortar a acidez das fermentações e de alguns legumes, a presença dos produtos lácteos, mas também o molho de sangue a lembrar-nos que o chef dissera gostar muito de cabidela.
E, por fim, as sobremesas: kombucha de alfazema com morango e sabugueiro; gelado de cera de abelha com nêsperas e pólen de flores; e uma surpreendente mistura de aipo, leitelho de vaca e um óleo feito com molho de chá tailandês; para terminarmos tudo com um clássico nórdico, o koldskal, feito com leitelho, ovos e açúcar, uma versão mais leve de leite-creme, no qual fomos convidados a mergulhar cerejas portuguesas.
Por essa altura, a azáfama acalmou na cozinha, os rostos voltaram a estar descontraídos, as caixas começaram a ser arrumadas. É o momento de que Leonardo nos falara à tarde. “Há uma satisfação que chega com o fim do serviço, quando se abrem as gavetas frigoríficas e se vê que não sobrou nada, tiveste casa cheia, fizeste tudo a que te tinhas proposto e amanhã podes começar tudo outra vez.”
Entre a Escandinávia e Portugal, com uma horta à beira da praia e um mundo de produtos a descobrir, Leonardo Pereira vai construindo, com o entusiasmo de quem tem tudo em aberto, a sua linguagem gastronómica – arriscada, surpreendente, experimental e, acima de tudo, livre.