Fugas - Viagens

Nelson Garrido

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Pirenéus aragoneses - Esquiar ao sol

Tem um charme iniludível e é uma atracção por si. Francisco Buldaín não tem dúvidas: vem para Cerler porque "é a melhor", sim, "pelo preço", também, e por Benasques "Ficamos sempre no pueblo de Benasques, agrada-nos o ambiente, muy bueno, muy bonito". Estamos novamente em Ampriu, onde Francisco, a mulher Alicia e a filha Amaia, esquis nos pés, se preparam para apanhar o teleférico para paragens mais altas - Aritz, o filho, está com o professor. Apesar do nome basco dos filhos, vêm de Pamplona e fazem-no amiúde. Nas férias, nos fins-de-semana, "é perto". "Esta é uma estação mais alpina, a neve é boa", sublinha Alicia. Embora também esquiem em Navarra e se desloquem a Andorra, onde há muitos portugueses (Francisco gosta muito dos portugueses, teve um tio português, conta sorridente). Esquiam há muitos anos - até Amaia, que tem apenas 13 anos, muito envergonhados, já acompanha os pais.

Mais uma vez sem os esquis, deambulamos de teleférico em teleférico - com algumas paragens inesperadas, um bónus para quem quer deleitar-se com as vistas (e daqui o horizonte ergue-se em picos que passam os três mil metros), um contratempo para quem quer esquiar (os assobios e os joder são constantes, mas também a cantoria e risos cúmplices), passando por vários sectores da estância. Subimos a Telesilla del Amor (praticamente apenas cénica) até à Sarrau Beach (onde voltaremos de noite), para um simulacro de Caraíbas em paisagem alpina - pequena casa cor de salmão e terraço com palmeiras, espreguiçadeiras, balcão de gelo e sortido de bebidas várias -, e descemos para a Cota Dos Mil, encruzilhada de teleféricos (sobem e descem em várias direcções) e pistas - e local da Parrilla, cafetaria-restaurante com Wi-Fi e um fantástico terraço cheio de espreguiçadeiras (todas ocupadas neste início de tarde), à frente do qual os esquiadores mais ousados fazem travagens radicais. Começamos em Ampriu e agora mais uma descida teleférico - e chegamos, finalmente, a Cerler. São 16h00 mas ninguém leva a mal se formos ali ao Remáscaro, beber um mojito, publicitado por todos desde que chegamos a Aragão. O bar é pequeno, redondo, envidraçado com um pequeno terraço virado para o pôr-do-sol - e com lotação esgotada.

E quem pensa que as ofertas de uma estação de esqui se esgotam com o dia, desengane-se. São 19h00 e não há ninguém nas pistas, excepto os que vão participar no safari nocturno. O pisa-neves adaptado cruza as pistas iluminando a paisagem nocturna com luzes feéricas que tornam tudo irreal. Nas paragens, explicações sobre o funcionamento da estância - como a produção da neve (não, asseguraram-nos, a produção de neve em Cerler não prejudica a flora e a fauna, porque só se usa água e ar natural, não há produto para a cristalização; e aquelas colunas estranhas com "saias" fluorescentes que nos intrigaram o dia inteiro são os canhões de neve) - e tempo para copas - novamente nas Caraíbas alpinas, temos direito a champanhe e brinde gelado. No final, um jantar especial.

A neve não fica para trás quando descemos a Benasques, mas o manto desfaz-se. É quinta-feira, a partida é amanhã, mas esta é noite de passagem de ano no pub Molly Malone. Janeiro está a terminar, mas não questionamos. A vida em altitude nevada tem estes parênteses.

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