Fugas - Viagens

Paulo Ricca

Continuação: página 3 de 8

Uma aventura nas aldeias do xisto

Passa das 22h00. Lia e Emil, de oito e quatro anos, são os mais novos espectadores da prova. Estão com as avós, Louise la Point e Louise Pellerin, que vieram do Quebeque para apoiar a fi lha e nora. Já é habitual fazerem-no, mas é a primeira vez que trazem os netos. A equipa vai partir: "À demain", diz Lia, "je t'aime". "Go Quebec, go", gritam as mais velhas, entusiasmadas mas perplexas por não verem "ninguém da população a assistir". "Nos outros países não é assim". As corridas de aventura não são um desporto conhecido em Portugal, e um dos motivos é precisamente o facto de não ser fácil para o público assistir, acompanhar as provas.

Aqui, estamos numa aldeia do xisto, que até é sede da ADXTUR Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, que lidera o projecto da Rede das Aldeias de Xisto. Os desportos de aventura não são desconhecidos desta zona nem do projecto Aldeias do Xisto é, aliás, uma das suas apostas. Recentemente foram criados os Centros de BTT Aldeias do Xisto, apoios para a rede de trilhos que atravessa o território "demarcado". Há ainda rotas pedestres, e actividades como paintball, rafting, canoagem, escalada são comuns por estas paisagens rudes, de carácter forte, beleza selvagem e trabalho intenso, que descobrimos à boleia das Corridas de Aventura.

Foz do Cobrão, 58 habitantes

Aproximamo-nos de Foz de Cobrão, para descobrir uma aldeia que sobe uma pequena encosta, soalheira, clara, mais branca do que cinza mais cal do que xisto vista assim de fora. Não pode surpreender: o Alto Alentejo está já ali, do outro lado Tejo que banha a sede do concelho, Vila Velha de Ródão. Nos arredores, há campos, olivais e homens que trabalham desde manhã cedo e o horizonte fecha-se na serra de Sarnadas.

Entramos para ruas estreitas, chão empedrado irregular e no primeiro largo que encontramos paramos o carro, que ali ficará até voltarmos à estrada (estamos em plena Foz do Cobrão, só há ruelas a saírem e a chegarem, mas as placas indicam Lisboa para um lado, Castelo Branco e A23 para outro). Não se vê ninguém o ar traz-nos vozes animadas de parte incerta.

O sol aquece esta manhã de Novembro no meio do casario apertado e indisciplinado. Há ruelas, becos, pequenos largos que sobem e descem. Subimos, portanto, porque para baixo vemos a cor das casas e, afinal, procuramos xisto. Ele começa a surgir, primeiro em apontamentos em pequenos anexos. Xisto, madeira e amarelo, parece ser a combinação mais usual. Pequenas construções de xisto abandonadas, humildes outra combinação forte. E no meio de tudo isto, muitas casas pintadas -rebocadas.

Subimos, sempre, e espreitamos uma ruazinha e outra à espera de sermos surpreendidos. E somos, por vezes: a Rua dos Barqueiros, pequenina, ar rústico um pouco abandonado, pequenas escadas desalinhadas; depois a ladeira, poucos metros de rua pitoresca encimada por uma casa branca e lista azul-cobalto, muitos vasos em frente; muros de xisto escondem videiras e oliveiras que estão por todo o lado; uma nespereira surge no meio do caminho.

--%>