O convite parecia simples: assistir a algumas etapas do Campeonato Mundial de Corridas de Aventura 2009 em território das aldeias do xisto. Escusado será dizer que todos os planos feitos saíram gorados. Mas não nos queixamos. O mundial de corridas de aventura revelou-se uma aventura também para nós. Apesar do cansaço e do frio, fomos até onde nunca pensáramos ir e fomos onde sempre quiséramos ir.
Por enquanto estamos a chegar ao ponto de encontro Hotel Serra da Estrela, é segunda-feira, noite cerrada. Há uma sala improvisada com mochilas, sacos-cama e muito movimento. Concorrentes, pensamos. Pessoal de apoio, esclarecem-nos os concorrentes continuam lá fora, em prova. O descanso é opcional, dizem-nos, cada equipa tem a sua estratégia, o que interessa é que cumpram todas as etapas dentro de uma determinada janela temporal. Por isso, o plano genérico da competição fala em "estimativas" de chegadas e partidas; e o mais esmiuçado refere coisas como "horário de passagem diurno com possibilidade de as últimas equipas passarem durante a noite".
É manhã cedo quando partimos ao encontro da prova. Na estrada, algumas equipas em direcção ao hotel, mas seguimos, porque as corridas de aventura não se correm na estrada é mesmo proibido seguir estradas, excepto em troços bem definidos, é fora dela e, de preferência, em paisagens deslumbrantes (estamos agora na serra da Estrela, mas a prova, que começou no Estoril há dois dias, já passou pelas serras da Lousã e do Açor; ainda irá à da Gardunha, de São Mamede, de Aire e Candeeiros e d' El Rei). E não há percurso definido, há um ponto de partida e um ponto de chegada, os caminhos escolhidos são inteiramente da responsabilidade das equipas, que recorrem à orientação. A pé, de BTT e de canoa, sobretudo, mas sem desdenhar de outros meios de progressão, como os patins e a natação, ou a escalada e o rappel, por exemplo, as 59 equipas que cumprem a prova portuguesa fazem uma mini-volta ao país por caminhos pouco explorados e isso é um dos atractivos.
Paramos no ponto de controlo 173, um tripé e um pequeno aparelho electrónico onde cada concorrente passa o seu chip e "marca pontos" (a classificação final inclui uma série de variáveis, herméticas para leigos) o ideal é passar por todos os postos de controlo, mas alguns desviam-se no percurso (perderem-se é normal, por isso é que cada participante é seguido por um serviço de monitorização por satélite) e falham-nos.
O 173 fica no topo de um vale rochoso. Não há ninguém à vista, portanto avançamos para outro, por uma estrada periclitante sobre ravinas "Trânsito fechado". "É só para enganar", diz o nosso guia. Quando vemos um buraco na estrada, como uma dentada gigante, duvidamos. Mas, entretanto, já passa uma equipa, os membros separados por vários metros o cansaço é palpável. O próximo miradouro é amplo. No fundo da encosta várias equipas começam a subir não há mais ninguém na paisagem remota, onde se entrevêem ruínas camufladas e o único som é o de chocalhos. A Team Accelerate Adventure Racing (Reino Unido) chega cá acima, dois membros presos por cordas. Como está a correr? A mulher (as equipas têm quatro elementos e pelo que vimos cumprem "quotas": normalmente um é do sexo feminino): "Fine, not too much work on my tan, though", brinca. O dia está frio, o sol brinca às escondidas, no dia anterior choveu. Porém, eles estão de calções e t-shirts.