Fugas - Viagens

Parque da Espanha Industrial

Parque da Espanha Industrial Luís Maio

Barcelona - A cidade dos parques esquisitos

Por Luís Maio

Demoliram fábricas, estações de comboios e até um matadouro para edificarem uma nova rede de parques e jardins. Depois chamaram Jean Nouvel e ganharam o espaço público mais insólito do século XXI. A Fugas apresenta a Barcelona que os de Barcelona não param de discutir

Barcelona: Promoções de voos e propostas de programas, 20.5.2011
O que é que Barcelona não tem?, por Alexandra Lucas Coelho, 13.03.2010
A fantasia dos mercados, por Luís Maio, 20.12.2008
Barcelona entre chineses e cemitérios, por Alexandra Prado Coelho, 05.03.2011

Hotéis | Barcelona deluxe
Barcelona vive-se bem das janelas do W, o hotel vela, por Mariana Oliveira, 13.03.2010

Barcelona é um das cidades europeias que mais tem investido na renovação urbana. É um processo que deriva da queda do franquismo, em 1975, mas que arranca realmente no início dos anos 80, com a preparação dos Jogos Olímpicos de 1992, para atingir um novo pico com a organização do Fórum Universal das Culturas, em 2004. A face mais visível, ou mais mediática, desta constante reinvenção urbana é um conjunto de edifícios majestosos e espectaculares, já consagrados como novas atracções turísticas da capital catalã.

Estas peças de arquitectura iconográfica nasceram regra geral no contexto de planos urbanísticos, que também contemplaram o lançamento de novos parques e jardins. A rede de espaços públicos resultante é única e original, porventura a mais extraordinária da Europa actual. É todo um conjunto de soluções arriscadas, provocadoras ou mesmo revolucionárias, que por isso mesmo merecem ser admiradas, nem que seja pelo choque.

O que é estranho para quem vem de fora não está, porém, forçosamente entranhado em quem lá vive. A inovação em termos de espaços de lazer partilhados, sobretudo numa cidade em que eles escasseiam, é na verdade um tema de discussão quotidiana em Barcelona. Talvez mais do que qualquer outro tipo de equipamento público, os novos parques e jardins da cidade são palco de um aceso debate cultural entre a memória e o futurismo, entre o espectáculo e o uso social. E valem por isso igualmente, ou seja, como uma montra privilegiada sobre o que é hoje a identidade e os valores catalães.

Parque Joan Miró

Inaugurado em 1983, o Parque Joan Miró foi o primeiro da nova fornada de espaços públicos inaugurados na Barcelona pré-olímpica. Numa cidade à cunha, inaugurou a prática de inventar oásis urbanos prescrevendo o derrube de dinossauros da era industrial. Neste caso foram 4,7 hectares libertados, nas imediações da Praça de Espanha, graças à demolição do Excorxador, o antigo matadouro municipal (1881). No seu lugar, o colectivo de arquitectos Solanas, Galí, Quintana e Arriola delineou uma grande esplanada pavimentada em torno de um tanque, do qual emerge a estátua "Mulher e Pássaro" de Joan Miró. Foi o ponto de partida para toda uma série de parques dominados por "places dures" (pavimentadas).

A praça é complementada por um pequeno bosque mediterrânico, mas o centro das atenções recai naturalmente na escultura surreal de 22 metros de altura, coberta de trencadís (pedaços de cerâmica vidrada), a última assinada em vida por Miró. Um privilégio da arte sobre a natureza, que durante a década seguinte também norteou a criação de espaços públicos na cidade catalã. Foi o rastilho para muitas discussões na altura, ainda hoje não é um tema pacífico. Agora o parque Joan Miró tem pelo menos companhia na polémica, graças à vizinha praça de touros Les Arenes, recém-convertida em centro comercial com a assinatura de Richard Rogers.

--%>