Depois de instalados no hotel, o dia segue com um passeio de moto 4 pelas dunas. Estamos a poucas centenas de metros da praia de Chaves, uma delícia de fronteira entre a terra e o mar. O grupo é vasto, maioritariamente estrangeiros: espanhóis e franceses seguem atrás da primeira moto, e o resto do grupo vai em fila indiana imitando o percurso do guia que vai olhando para trás a ver se ninguém ficou enterrado na areia. Além disso, tem a preocupação de verificar que todos lhe seguem a roda, porque não há nada mais traiçoeiro do que andar pelas dunas, cuja configuração pode mudar em pouco tempo, o que é um risco acrescido para quem anda num veículo motorizado por terras desconhecidas.
"Os portugueses são muito ousados" quando andam por aqui de moto 4, confidencia a directora do Iberostar, que também embarcou nesta viagem de duas horas e meia. Desta vez, os lusos que ali estavam portaram-se bem, sem desvios ao trajecto nem grandes velocidades. A meio do percurso, chega-se ao Morro de Areia, a sul de Sal Rei. Para trás ficaram uns bons quilómetros de dunas e de terreno árido e plano que poderia ser uma paisagem lunar. A vista do cimo do morro é deslumbrante, um descanso para a alma, um carrossel de cores para os olhos.
O guia aponta para o mar, para as águas mais próximas da praia, onde se vêem tubarões. Sentado em cima de uma moto 4 que cruza desavergonhadamente aquele território quase virginal, é impossível não pensar no que será a Boa Vista daqui a uns anos, quando houver mais pistas no aeroporto, mais turistas a chegar, mais motos a circular. Porém, mesmo com sabor a pecado, a viagem prossegue, os remorsos são atirados para trás das costas e a cabeça começa a pensar na melhor maneira de pôr fim a isto: um banho no mar. Seguimos para norte, passa-se ao lado de outro dos grandes resorts, inaugurados em Maio passado, cruzamo-nos com gente que cavalga pela praia e, perto de um pequeno bar na praia, tira-se a roupa e os chinelos e vai tudo parar ao mar. A água está quente. É assim que as batatas se devem sentir quando estão a cozer dentro da panela. Não podia ser melhor.
Puro engano. O momento de relaxamento não era aquele mergulho. No regresso ao hotel, um long drink torna-se a antecâmara de uma massagem de relaxamento no spa. Antes disso, há ainda que experimentar os tanques da piscina. De novo, a água parece um caldo salgado. Os músculos das pernas e dos braços, que saíram tão agitados daquele passeio pelas dunas, estão a bombar. É preciso guardar energia porque é noite de sexta-feira, e todas as noites de sexta-feira e de sábado são noites de discoteca em Sal Rei, que fica no extremo noroeste da Boa Vista. Antes da grande noite, o jantar no hotel, onde já tinha sido servido um almoço buffet, horas antes. A cozinha está a cargo de um chef basco, Marcelino González Quintas, de 49 anos. A lagosta, petisco abundante nesta ilha, vem grelhada, acompanhada de vinhos locais como o Vinho do Fogo, cujo sabor não é fácil de definir para um leigo. Há quem diga que tem um travo de enxofre, há quem diga que sabe a carne. A aposta nos produtos locais é constante, o pão e toda a pastelaria é feita ali, com ingredientes de Cabo Verde sempre que possível. Vocacionados para um turismo de massas que compra pacotes tudo incluído, certos hotéis perdem o contacto com a realidade local, com a autenticidade que os envolve. Não é, felizmente, este o caso, até porque havendo por ali tanto a desenvolver, não é possível trabalhar nas costas do resto do povo.