Fugas - Viagens

  • Camilo Azevedo
  • O Nilo, ao contrário do Tigre e do Eufrates, sempre foi um rio previsível. As cheias chegavam sempre entre Junho e Setembro
    O Nilo, ao contrário do Tigre e do Eufrates, sempre foi um rio previsível. As cheias chegavam sempre entre Junho e Setembro Camilo Azevedo
  • Baía de Alexandria, no Egipto. A cidade ficou célebre pelo seu farol e pela sua biblioteca, a principal do Mundo Antigo
    Baía de Alexandria, no Egipto. A cidade ficou célebre pelo seu farol e pela sua biblioteca, a principal do Mundo Antigo Camilo Azevedo
  • Plataforma dedicada a Apolo, em Cirene, na Líbia oriental
    Plataforma dedicada a Apolo, em Cirene, na Líbia oriental Camilo Azevedo
  • Souk da cidade de Alepo, no Norte da Síria
    Souk da cidade de Alepo, no Norte da Síria Camilo Azevedo

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Histórias do Mediterraneo III: O mar dos milagres

Após a independência, a decisão de construir a grande Barragem de Assuão transportou o país para o século XX. As obras duraram 10 anos e, nestas, centenas de operários perderam a vida. Entre as medidas então tomadas, conta-se a trasladação de grandes monumentos que seriam afogados pela barragem. Um deles, o gigantesco Templo de Abu Simbel, exige que a viagem prossiga um bom pedaço para sul. Outro, o Templo de Philae, fica mais próximo da cidade e é uma pérola. Quem chegue a Assuão não deve prescindir deste prodígio de equilíbrio e subtileza arquitectónica rodeada de água por todos os lados. Ao mesmo tempo, a visita à Casa de Ísis presta homenagem à deusa que elevou o amor à condição de milagre.


O mito de Ísis e Osíris
Ísis era irmã e mulher de Osíris, o rei que ensinou ao povo egípcio o cultivo dos cereais e o culto aos deuses. Outro irmão de Osíris, Seth, que governava o deserto, tinha tanta inveja dele que o resolveu matar. Um dia, durante uma recepção, exibiu um cofre de madeira de cedro, dizendo que o oferecia a quem coubesse nele. Na verdade, a aparente brincadeira era uma armadilha: o cofre fora mandado fazer com as exactas medidas de Osíris. Quando o rei se deitou, Seth fechou a tampa e deitou-o ao Nilo, afogando-o. Ísis, inconsolável, partiu à procura do caixão, encontrando-o fora do Egipto, na cidade de Biblos, no actual Líbano (a terra dos cedros). A rainha teve que usar todos os seus encantos e estratagemas para convencer o soberano local a permitir que o seu amor pudesse ser repatriado para o Egipto. Mas Seth encontrou-o e, furioso, esquartejou o cadáver em 14 pedaços, que espalhou pelo país. De novo Ísis foi à procura do marido, juntou todos os pedaços, e conseguiu, por artes mágicas, que ressuscitasse. O renascido teve com ela relações sexuais e foi definitivamente reinar no mundo inferior, onde se encontram as sementes da vida. Ísis deu assim à luz um filho, Hórus, que se manteve escondido até ter idade para enfrentar Seth e arrebatar-lhe o trono do Egipto. Assim, a primeira ressurreição mística da história é a de Osíris e não a de Jesus. O culto de Ísis e Osíris transcendeu a religião egípcia. Ele foi recuperado por Plutarco, para os gregos, e passou aos romanos, atravessando todo o Império e chegando mesmo à Península Ibérica. Ainda em 394 d.C., o cônsul Nicómaco Flaviano ordenou que se realizassem festas nacionais em homenagem a Ísis. Só a partir do imperador cristão Teodósio foram encerrados os templos pagãos. O culto, contudo, ainda sobreviveria nas margens do Nilo até meados do século VI, uma longevidade absolutamente notável.


ALEXANDRIA
A Biblioteca 

O Templo de Philae é contemporâneo de Alexandria, a obra maior da linhagem dos faraós gregos que dirigiram o país do Nilo ao longo de 14 gerações. Os sucessores ocidentais de Alexandre Magno viraram a nova cidade para o mar, deram-lhe o mais mítico dos faróis e fizeram dela o maior centro de cultura da antiguidade. Fizeram-no na condição de faraós e ao modo dos faraós.

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