Fisgas do Ermelo
A maior queda de água
É grande a tentação de deixar Miguel Torga falar: "Cá me vim debruçar também sobre o despenhadeiro das Fisgas, com os pés seguros pelos companheiros por causa das vertigens. E apreciei devidamente este misto de espanto e terror. A contemplação dos abismos naturais é necessária de vez em quando a quem tem a atracção dos outros (...)", escreveu no seu Diário VIII, no dia 2 de Outubro de 1959. Nós fomos às Fisgas do Ermelo (Mondim de Basto) meio século depois, regressámos algumas vezes, e não há tempo que apague o deslumbramento primordial diante do precipício que se deixa abrir num leito de quartzitos por onde o rio Olo se despenha de uma altura de 200 metros. É a maior queda de água de Portugal, uma das maiores da Europa, mas não se precipita em vertical absoluta, vai brincando fora e dentro das rochas. No topo, formam-se lagoas, bacias rochosas onde o Verão se refresca (responsáveis pela presença das Fisgas do Ermelo entre as 21 finalistas das 7 Maravilhas), mas o miradouro para a cascata está a meio caminho do despenhadeiro, uma plataforma de rochas indisciplinadas defronte da parede rochosa onde escorre a água, mais ou menos explícita, dependendo da altura do ano. Se nos aproximamos da beira podemos espreitar o fundo da garganta, se o terror vencer olhamos em volta para a paisagem que se multiplica em cume horizonte dentro - estamos na serra do Alvão, em pleno Parque Natural, e o cenário vale por si só. Andreia Marques Pereira
Lagoa do Fogo
Uma aventura na lagoa
Não há conversa sobre os Açores em que não me lembre daquele dia na Lagoa do Fogo. Recordo perfeitamente a sensação de espanto - quando a olhamos de cima, antes de começar a descer a encosta, parece saída de um livro de aventuras juvenil, com direito a bruma e tudo. Foi nessa primeira ida à lagoa que perdi quase toda a minha fé nos placards de informações do Turismo dos Açores (já lá vão anos, devem tê-lo alterado entretanto). O que li naquela altura dizia que o percurso que contornava a lagoa, classificado como "fácil", era de 12 quilómetros, demorava quatro horas a fazer e, eventualmente, poderia exigir aos caminhantes que entrassem na lagoa para cumprir parte do trilho, mas sem que a água passasse do joelho. O que posso dizer passado todo este tempo é que eu e os meus amigos - todos habituados a andar a pé na natureza - demorámos mais de sete horas a concluir o percurso e para transpor algumas das "etapas" tivemos de nadar e de fazer escalada livre. Pelo meio soltámos uma cria de garajau e escrevemos mentalmente várias cartas ao turismo das ilhas. No fim do dia, a grande língua de areia da lagoa parecia-nos muito pouco uma praia, mas diz quem mora em São Miguel que é boa. Lucinda Canelas
PRAIAS DE USO DESPORTIVO
Ribeira d'Ilhas
As ondas perfeitas
E de repente temos 18 anos e a carta de condução. Porquê ir para a praia de sempre, aquela cujo percurso se faz caminhando pelo centro da vila, onde estão a família e os amigos da família, quando podemos descobrir as praias vizinhas, aquelas aonde se chega de carro? Partimos de janelas abertas e o rádio no máximo. Saímos do centro da Ericeira e, 1,5 ou dois quilómetros de estrada depois, ligamos o pisca para a esquerda, descemos a ladeira de terra batida e estacionamos junto ao canavial, em frente ao mar. As ondas perfeitas e certas chegam à praia, trazendo com elas os surfistas. É verdade, admitimos entre risos, foram os surfistas que nos levaram a Ribeira d'Ilhas. São lindos, de olhos claros, cabelos encaracolados e louros nas pontas. Saem da água numa corrida, pousam as pranchas e despem os fatos. Seguimos os seus movimentos e comentamo-los como se fosse preciso legendagem. E é! Muitos são estrangeiros, alemães, holandeses, franceses. Tantas línguas que precisamos de saber melhor, reconhecemos. Vinte anos depois, Ribeira d'Ilhas continua igual, mas com mais condições. Afinal, é ali que se realiza uma das etapas do Campeonato do Mundo de Surf. É possível chegar a pé ou de bicicleta pela pista ciclável e descer, até à praia, uma escadaria de madeira que parece não ter fim. O estacionamento faz-se no asfalto, ao lado de um pequeno café e do Surf Camp, onde se pode comer, dormir, alugar equipamento ou comprar aulas para a prática da modalidade. As carrinhas "pão de forma" parecem as mesmas, assim como os rapazes. Bárbara Wong