Fugas - Viagens

DR/Turismo da Croácia

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De Zagreb ao interior, a Croácia tem alma líquida... e adrenalina

Fora desta longa artéria pedonal, Zagreb vê-se quase espectral, sob luzes amarelas, quando se atravessa o mercado Dolac para desembocar defronte da catedral, e volta a encher-se na Praça Ban Josip Jelacic onde o eléctrico ainda chega e parte cheio - aqui é a versão moderna, esguia no seu azul redondo, a cor de Zagreb; vemo-lo, volumoso, como reminiscência da antiga Jugoslávia, ao cruzar, por exemplo, a Avenida Vukovar.

O dia amanhece quente e Zagreb desperta tarde. É feriado, Corpo de Deus, e voltamos ao famoso Dolac para o ver vestido de bancas que fintam o sol com os tradicionais guarda-sóis vermelhos com listas brancas. Qualquer semelhança com a praça que vimos na noite anterior é pura coincidência: da apatia nocturna à vivacidade diurna vai um abismo que se mede no arco-íris que a cobre, de frutas, legumes, vegetais e artesanato (muitos brinquedos típicos de madeira), e no bulício que se escuta - tantas vezes o croata nos vai soar como o português.

Não temos muito tempo para conhecer Zagreb mas damos o nosso melhor para descobrir esta cidade que foi sempre um baluarte contra invasões, dos mongóis aos otomanos, ou não estivesse numa encruzilhada entre o oriente e o ocidente. Primeiro, foi fundado o bispado de Kaptol (século XI), enquanto na colina adjacente se desenvolveu Gradec (cidade livre no século XIII), numa competição que acabou no século XVII com a unificação de ambas. Já no século XIX, a cidade alargou-se, ficando dividida entre "cidade alta" e a "cidade baixa", que continua a expandir-se.

Nós estamos calcorrear a cidade alta, que foi medieval e de madeira e ganhou rosto de pedra e trajes barrocos entre os séculos XVII e XVIII muito por culpa de incêndios. Um deles deu origem a um dos pontos de peregrinação turística incontornáveis - e, neste caso, peregrinação pode ser literal: Kamenita Vrata, "porta de pedra", é local histórico e religioso. É a única porta medieval sobrevivente em Zagreb e é também testemunho de um "milagre" que a converteu num dos templos da cidade. No seu altar, por trás de grades de ferro, uma pintura da Virgem Maria com o Menino Jesus foi encontrada intacta quando tudo o resto foi reduzido a cinzas num incêndio no século XVIII; nas suas paredes, enegrecidas pelas velas que aí se acendem, sobressaem ex-votos de mármore que a foram preenchendo.

Passado o portão entramos em Gradec, o coração cívico da cidade. Mas não deixamos o coração religioso sem visitar a catedral de Zagreb, ponto cardeal omnipresente e neogótico, agora em processo de restauro. A missa de Corpo de Deus enche-a de fiéis - um fenómeno recente, diz a guia: "depois do socialismo e da guerra, o país voltou à religião". No horizonte ergue-se a "montanha dos ursos", Medvednica, que no Inverno se veste de pistas de esqui.

Entrando, então, em Gradec pelo Portão de Pedra subimos em direcção à imagem mais conhecida de Zagreb em ruas que ainda hoje são iluminadas por candeeiros a gás. Aqui os edifícios ganham majestade e sobriedade pastel, a azáfama comercial desaparece e, na Praça de S. Marcos, a igreja paroquial de S. Marcos, com o telhado como painel de azulejos, com o brasão de Zagreb e o do reino tríplice da Croácia, Eslavónia e Dalmácia, é talvez o monumento mais fotografado e símbolo maior de Zagreb - ao lado, o parlamento croata e o antigo palácio do vice-rei.

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