O nome oficial é Parque Nacional dos Lagos Plitvice primeiro, "a" maravilha natural croata, num país conhecido pelos seus parques nacionais (oito). Este é-o desde 1949 e Património Natural da Humanidade desde 1979. Estamos na Croácia, num vale entre montanhas, como poderíamos estar nas Caraíbas quando os nossos olhos mergulham nas várias declinações de azuis-turquesa e verdes-água dos 16 lagos do parque, que se dispõem em degraus unidos por um infindável número de quedas de água, cascatas e rápidos, entre floresta e vegetação tão densa quanto luxuriante, onde brotam nascentes e correm incontáveis ribeiros. Porém, só mesmo os olhos mergulham, uma vez que não é permitido tomar banho. Claro que há "sempre alguém que cai, sobretudo em dias de maior calor...", ironiza a guia, Helena Petrovic, há 33 anos ao serviço do parque.
Não podemos dizer que isso não nos tenha passado pela cabeça e essa é a maior tortura deste parque - não se poder desfrutá-lo mais do que a um museu. É probido apanhar flores, nadar, sair à noite (há três hotéis no parque, nós ficamos num deles), por exemplo, tudo para "proteger o ciclo da natureza", " para que possa sobreviver por si própria". O ecossistema mais delicado é o dos lagos, e como um laboratório bioquímico natural, com as condições ecológicas e hídricas ideais para que criar a travertina, uma pedra suave, porosa. É essa pedra que compõe o rendilhado de barreiras que constituem a tapeçaria destes lagos, em permanente mutação - aqui acelerada, que é o que torna os Lagos Plitvicka únicos. Por tudo isto, há guardas-florestais que patrulham toda a área; mas por tudo o que isto desenha vão-se escutando histórias de quem dribla a segurança e arrisca caminhadas na escuridão para nadar nos lagos.
Chegamos ao início da tarde e antes dos lagos somos recebidos por uma atmosfera que lembra um mundo perdido, no hotel que foi uma antiga estação termal nos tempos da Jugoslávia. A entrada principal é a número um, vista quase directa para os 70 metros de altura da maior queda de água da Croácia, onde amanhã encontraremos um batalhão de estrangeiros equipados para caminhadas. Agora, estamos na entrada dois, junto dos hotéis, e esperamos o autocarro que nos vai levar à nossa casa de partida - há autocarros eléctricos e um ferry num dos lagos para complementar as caminhadas; e quem gosta mesmo pouco de andar a pé tem um comboio panorâmico. Um grupo de chineses assalta o painel informativo, o carro dos gelados (sladolad) não tem mãos a medir. Nós subimos o autocarro-lagarta, herança de outros tempos, que trepa com dificuldade por entre curvas e contracurvas até nos deixar no nosso caminho - o trilho E, versão alargada (são dez as opções).
A partir daí somos nós, a natureza e os outros visitantes, enquanto vamos usando passadiços, cruzando longas pontes rentes à água e percorrendo caminhos de terra, sempre com água a acompanhar-nos (não só os lagos, que ocasionalmente perdemos de vista, mas os riachos que surgem pela floresta como veias palpitantes e indisciplinadas). Há água que não se cala, pássaros em cantoria desenfreada e num canavial escutamos a música insistente dos sapos. Entretanto, avançamos entre fetos enormes, musgos espessos, nenúfares desmesurados e em prados de flores amarelas e lilases as borboletas não param de exibir-se. Ocasionalmente há bancos e ocasionalmente há quem saia dos trilhos; transitamos da tranquilidade de grandes lagos para o nervosismo de quedas de água constantes; passamos do calor ao fresco como quem vai do oito ao 80 - e só com esforço podemos imaginar tudo isto gelado e silencioso, como o Inverno é descrito por Helena.