Fugas - Viagens

DR/Turismo da Croácia

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De Zagreb ao interior, a Croácia tem alma líquida... e adrenalina

Não é assunto fácil com estranhos, mas tão pouco é tabu, a guerra dos anos 1990. Aliás, ela ainda se pressente um pouco por todo lado, nas fachadas com marcas de estilhaços, nas casas e edifícios destruídos, nas campas, tantas vezes solitárias, à beira das estradas. Na verdade, este território que percorremos foi durante séculos parte da Fronteira Militar da Croácia, uma espécie de zona tampão onde o império austríaco combatia os avanços do império otomano. Um bom exemplo é a cidade de Karlovac, que "sempre foi uma área militar" e é "uma das poucas cidades no mundo que sabe exactamente quando [13 de Julho de 1579] e porque foi fundada", há-de dizer-nos Dubravko Halovanic - ele próprio seguiu o "negócio" da cidade e foi soldado profissional até 1986.

Foi nesse dia do século XVI que começou a construção da fortaleza, cuja herança mais perene é a forma da estrela que continua a moldar a cidade. Tentamos descortiná-la desde o Castelo Dubovac, num colina próxima, onde muitas batalhas se travaram entre os croatas e os exércitos otomanos. Hoje em dia, o castelo é palco de reconstituições históricas graças ao voluntarismo de uma associação cultural da cidade e por isso podemos ser surpreendidos com combates de espada entre os soldados rivais. No castelo, sentamo-nos em mesas rústicas para comer um goulash e tomar hypocras, vinho de receita medieval e sabor entranhado a especiarias; nas tendas, cruzamos as pernas para um chá acompanhado de turkish delights e shisha. Entre um e outra, um alvo espera que pratiquemos as artes da guerra armados de arco e flechas.

A cidade dos quatro rios (Kupa, Korana, Mrežnica e Dobra) continua a exibir a malha urbana renascentista, pese embora a destruição do século XX, que veio em três vagas: as I e II guerras mundiais e, sobretudo, a "Guerra da Pátria", esta última ainda bastante visível nos edifícios da cidade, alguns ainda esventrados, muitos mais de fachadas perfuradas. Não chegou, no entanto, a ser tomada, graças em parte aos esforços de contenção dos militares em Turanj, no local que hoje é museu da guerra mas sempre foi quartel-militar- e entre 1991 e 1995 estava a 600 metros da linha da frente.

Tal como Turanj, também Karlovac tenta ultrapassar a última das suas investidas militares, da qual ainda não recuperou totalmente, nem a nível demográfico nem de emprego - neste caso, uma pequena ironia: depois de muitos anos com a cerveja como principal indústria (aqui se produz a "Karlovacko") agora é a das armas (HS Produkt) o maior empregador. "É uma região a reinventar-se, a esquecer o passado e a recomeçar do zero", afirma Damjan Beusan, o nosso guia. "Por isso o turismo é muito importante." Por enquanto a aposta é no turismo activo, em breve querem afirmar-se no turismo cultural e de arquitectura. Não são, na verdade, partes que se excluem mutuamente e nós somos prova disso - por terras de Karlovac e Lika puxamos pela adrenalina sem nunca perder de vista a história destas paragens. É a Croácia ao encontro do futuro.

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