Alguns museus estão concentrados nesta zona, em antigos palácios, entre eles o Museu da Cidade, o de Arte Naïf, considerado o mais antigo do mundo (1952) e o das "Relações Partidas", que será certamente o mais original - "yo quiero ser tu mundo", lê-se numa das primeira "obras".
Um tiro de canhão pontual
A margem da cidade alta, autêntica varanda sobre a Zagreb pós-oitocentos, chega-nos com Tom, o tocador de guitarra que é uma instituição local, abrigado do sol num dos pontos mais turísticos da cidade, a Torre Lotršcak. Estar lá por volta do meio-dia pode equivaler a um grande sobressalto: o canhão no topo é pontual e diário; subir a torre equivale a ter uma das vistas mais deslumbrantes da cidade, mas percorrer a Strossmayer Promenade que passa abaixo também proporciona panorâmicas inesperadas. Durante o Verão é também um dos spots noctívagos mais concorridos já que é aqui que acontece o Strossmarte, um festival de Verão que dura cem dias. Mesmo aqui ao lado, uma das curiosidades de Zagreb: o funicular mais curto do mundo - uma elevação de 65 metros apenas, percorrida em 50 segundos, a ligar as duas partes da cidade.
Mas é a pé que voltamos à omnipresente Praça Ban Josip Jelacic. Entre esta e a estação ferroviária, na cidade baixa (Donji Grad), uma sucessão de jardins e parques forma uma "ferradura" (Lenucijeva Potkova) que é um bom pretexto para conhecer esta zona feita de boulevards, a respirar 1800s e a recordar o império dos Habsburgos. Ao longo dela, museus e galerias de arte em edifícios na mesma traça de Viena - destaque para o Teatro Nacional, neo-barroco no seu amarelo-torrado, paradigma da arquitectura do império austro-húngaro, inaugurado pelo imperador Francisco José.
No lago como nas Caraíbas
Vemos esta parte já sobre rodas, a caminho do resto da Croácia, este país de 4,5 milhões de habitantes ("e outros tantos fora") em 46 mil quilómetros quadrados distribuídos por uma "forma bizarra" - "croissant" ou "dragão" são comparações comuns entre os croatas. O resto da Croácia na parte "do continente", o que equivale a dizer, que tem clima continental (verões de 35 graus e invernos que podem ir muitoabaixo de zero). Não vamos chegar à costa, "a zona mais bonita" (são os croatas que o dizem), que inclui 1245 ilhas ao largo e que fica depois dos Alpes Dináricos, a barreira natural que se estende da Itália até à Albânia e separa a Croácia continental e a litoral, que é climática mas é também cultural.
Na autoestrada para as praias da Dalmácia e da Ístria fazemos o que os visitantes normalmente não fazem: trocamos o mar e a areia pelos rios e verde da região de Lika-Karlovac. Isto significa atravessarmos aldeias, vilas e uma ou outra (pequena) cidade, em território eminentemente rural, marcado por natureza pujante - em muitas florestas ainda vivem ursos e a água é omnipresente, em cursos tranquilos ou (quase) indomáveis, tanto que por vezes pensamos que a Croácia continental tem uma alma líquida.
E pensamo-lo antes de chegarmos aos lagos Plitvicka. Afinal, já levamos muita Croácia nos olhos (e nas pernas, nos braços, mas a isso já iremos) quando aí chegamos - sem surpreendentemente termos andado muito longe de Zagreb: isto é o mais distante e esta é uma excursão de um dia sugerida em todos os guias da capital.