Quando ali chegou para começar a instalar o Europos Parkas, "não havia estrada, a floresta estava muito maltratada, os caminhos estavam por desbravar", conta à Fugas enquanto se encaminha para uma das mais impressionantes esculturas do parque, a sua LNK Infomedis, que construiu como epitáfio do comunismo a partir dos milhares de televisores de fabrico soviético que lhe fizeram chegar de todos os pontos do país. Por trás da barragem de televisões - tradução visual da barragem ideológica que a propaganda do regime despejou durante décadas em todos os lares da União Soviética -, uma estátua de Lenine, caído por terra, derrotado pelo musgo.
Mais à frente, já está posta a mesa ao ar livre onde Karosas nos convida a almoçar com vista para algumas das mais de 100 esculturas que já conseguiu instalar no parque. Não há melhor maneira de resumir a Lituânia: um piquenique na floresta, no centro do centro da Europa.
Gruto Parkas: Estaline is watching you
Em 2001, um self-made-man lituano que fez fortuna a enlatar cogumelos ganhou a concessão de uma colecção de estátuas malditas na posse do Ministério da Cultura e transformou uma parte da sua quinta no Sul do país, a escassos quilómetros da estância termal de Druskininkai, num parque temático dos dias da ocupação soviética. Como noutros países do antigo bloco de Leste que assim reciclaram a sua pesada memorabilia comunista, a operação foi controversa: Viliumas Malinauskas, ele próprio filho de um lituano que passou dez anos na Sibéria, foi acusado de trivializar a barbárie do estalinismo na "Disneylândia diabólica" que criou junto ao cenário idílico de um dos quatro mil lagos da Lituânia. Com o tempo, os lituanos habituaram-se à ideia de haver um lugar no país (apenas um) onde tudo é como nos tempos em que Estaline, o big brother de um regime pior do que orwelliano, estava watching you - absolutamente tudo, incluindo a comida (ver fichas).
À entrada, o dispositivo de um antigo posto fronteiriço entre a União Soviética e a Polónia faz de portão - um posto fronteiriço controlado do alto de uma cabine de vigia de um gulag, e delimitado pelo arame farpado de campos de trabalho da Sibéria; antes das primeiras estátuas, um vagão usado nas deportações em massa organizadas pela URSS entre 1944 e 1953, que deslocaram cerca de 350 mil lituanos. E assim, de murro no estômago em murro no estômago (apesar do chilrear dos pássaros e dos casais de namorados), se entra no não tão admirável mundo velho da Lituânia pré-independência. Ao todo, são 86 monumentos - incluindo 13 Lenines, dois Estalines e seis Kapsukas, disseminados por uma área de 20 hectares - que reconstituem um país extinto, um país rigorosamente vigiado pelas estátuas titânicas dos grandes heróis comunistas que até 1990 dominavam as principais praças de todas as localidades dignas desse nome (quanto mais importante a localidade, maior a estátua).
Como nos velhos tempos, os altifalantes debitam hinos oficiais; como nos velhos tempos, comem-se salsichas com ketchup em maus tabuleiros de alumínio; como nos velhos tempos, o "clube de leitura" disponibiliza literatura autorizada.